O ano é 2015, o planeta é a Terra
e os problemas ainda são os mesmos, mas anabolizados pelo desenvolvimento das
tecnologias da informação. Com a popularização da Internet e das redes sociais
um velho problema do ser humano veio a se avultar: a dificuldade de conviver e
assimilar a diferença.
Engana-se quem acha que estes
problemas surgiram ou pioraram nos últimos tempos. Assim como se engana quem
acha que as guerras ou das doenças se proliferam como nunca antes, bobagem, as
guerras e as doenças hoje são muito menores e menos letais que há 50 anos. O
que ocorre é que hoje se há um surto de ebola em uma aldeia da África, amanhã
esta informação já terá chegado da Austrália ao Chile. Se há um massacre em um
remoto povoado da Indonésia em poucas horas já haverá manchetes no New YorkTimes e no El País. 50 anos atrás, antes destas notícias se espalharem
passavam-se dias, às vezes até alguns meses, e a situação já poderia estar
resolvida. Assim, apenas coisas realmente grandes e impactantes valiam a pena
ser mencionadas nos velhos jornais e revistas de papel. O mesmo acontece com a
Torre de Babel que se tornaram as posturas ideológicas, ninguém se entende, mas
ninguém nunca se entendeu muito bem mesmo.
Damo-nos conta das posições
ideológicas e culturais muito diversas das nossas justamente por conta do
intensivo uso das redes sociais e da forma como elas estão estruturadas. Uma
pessoa comum tem entre 100 e 300 amigos em suas redes sociais (este número é
bem achômetro, baseado nos amigos que são mais próximos e em alguma matéria que
li faz muito tempo, na época do Orkut, que dizia algo por aí...). Dentro deste
universo você tem colegas de trabalho e/ou faculdade, família, amigos antigos,
dos tempos de escola, pessoas que teve um breve contato em uma viagem ou curso
e eventualmente algumas amizades feitas pela Internet. Pois bem, nos tempos
pré-redes sociais, você se encontraria com a maioria destas pessoas algumas
poucas vezes, trocaria ideia com elas menos vezes ainda e talvez nunca soubesse
o que boa parte pensa sobre cotas raciais, casamento homossexual ou corrupção
no governo. Os seus amigos mais próximos, os quais você troca ideias
constantemente, costumam ser mais próximos justamente por haver certa afinidade
ideológica e/ou cultural. Ou seja, antes das redes sociais todos vivam mais ou
menos em casulos, mantendo perto e debatendo apenas com quem tinha um
pensamento mais ou menos parecido com o nosso; com o advento desta ferramenta
passamos a travar contato diário com o que se passa na cabeça de pessoas que
conhecemos, mas não temos tanta proximidade assim. E muitas vezes nos
assombramos com como podemos ter ideias diferentes sobre o mundo.
Justamente ao travar este contato
com opiniões tão divergentes que este defeito humano, a dificuldade de entender
e aprender com o outro, toma proporções titânicas. Ao invés de, ao ter este
contato, se colocar no lugar do outro, tentar entender as raízes daquele
sistema de crenças, pensar se a ideia oposta é viável ou, não sendo, tentar
refuta-la com suas próprias ideias. Ao invés de colocar duas ideias diferentes
em perspectiva e tentar ampliar a visão de mundo, a maior parte das pessoas, na
maior parte do tempo, reage como se o oposto fosse um inimigo, buscasse o mal e
apenas o próprio beneficio o tempo todo. É neste momento que os argumentos ad hominem abundam. É neste momento que desconstruir a imagem do interlocutor parece
muito mais viável e inteligente do que refutar o sistema de ideias dele. É,
amiguinhos, acho que ver muito He-Man na infância pode ter amolecido nossos
cérebros, e logo pensamos que quem não é um Guardião do Universo logo é um assecla
do perverso Esqueleto.
Mas o mundo não tão preto e
branco assim. E pode doer, mas quem acredita no socialismo, na maior parte das
vezes está querendo construir um mundo melhor tanto quanto quem acredita no
livre mercado. Quem é contra cotas raciais pode ser tão contra o racismo quanto
os que acham correta esta forma de compensação histórica. Muitas pessoas que se
posicionam a favor da flexibilização do aborto não são monstros apoiadores do
infanticídio, apenas querem uma vida melhor para o conjunto da humanidade assim
como os que são contra. A diferença é apenas o ponto de vista. Acredito de
verdade que a maioria da humanidade é boa. Se não fosse assim, com 7 bilhões de
seres humanos, o mundo já teria explodido muito tempo atrás.
Convido então, todos a fazer um
exercício comigo, na próxima vez que vir uma opinião que lhe pareça muito
divergente do seu sistema de crença, calce as sandálias da humildade, imbua-se de um pouco mais de empatia que consegue
utilizar e tente pensar como o outro. Tente entender de onde saiu aquela ideia,
tente ver porque é tão dissonante com o que você acredita. Tenho certeza que,
no mínimo, argumentos mais fortes para defender o seu ponto de vista você irá
conseguir.
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