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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O narcisismo nosso de cada dia...

"Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho..."
(trecho da canção "Sampa", de Caetano Veloso)

"Ah, meu caro Narciso... por que tiveste que se apaixonar pela própria imagem?... Por que não foste capaz de olhar alem de ti próprio e de admirar todo um mundo ao teu redor?... Não és perfeito, Narciso... Ah, meu caro Narciso... por que vejo em ti o meu reflexo?"


Por favor, admirem este último parágrafo, de minha própria autoria... (aplausos)... Obrigado! Pois bem, hoje, tentando pensar sobre um tema para escrever, tive que sair (um pouco) de meu narcisimo e pedir sugestões. Eis que me sugerem falar sobre o próprio narcisismo. Soou-me interessante, ainda mais depois de meu último texto aqui no blog, que refleti sobre os rótulos sociais. Então, obrigado pela sugestão, Rodrigo! Cá estou eu.

O termo narcisismo vem do personagem da mitologia grega chamado... Narciso, cujo fato principal do mito é que ele, inicialmente indiferente ao amor, acaba se apaixonado pela própria imagem e, ao tentar alcançar o seu próprio reflexo, acaba por definhar-se ante busca inalcançável. Ao lembrar desse mito, fiquei refletindo sobre os nossos narcisismos, que ocorrem desde pequenas coisas no cotidiano, até a busca de uma suposta perfeição, que na verdade se trata de querer encontrar algo ou alguém exatamente como nós.

É natural de todo ser humano querer uma unidade em todas as coisas, ou seja, uma relação harmônica entre tudo e todos. Esta seria a perfeição tão buscada: no trabalho, tudo dá certo; em casa, ela está limpa e organizada; não temos conflitos com as pessoas, damo-nos bem com todas etc etc...

No entanto, esbarramo-nos ante uma questão: somos todos diferentes e as coisas não são ou os fatos ocorrem sempre da forma que queremos. Há que se levar em consideração que cada um possui necessidades de experiências diferentes, desejos distintos, e ainda um karma diferente, como diria a tradição hindu, tudo visando de alguma forma a unidade.

O maior problema ocorre quando entram dois defeitos humanos entram nessa história: a vaidade e o orgulho. Aparentemente semelhantes, considero estes defeitos a principal característica do narcisismo e os grandes os vilões para essa busca da unidade. Em poucas palavras, a vaidade é o sentimento de que somos melhores, pois sabemos bem algo ou fazer algo e sobrevalorizamos isto. No orgulho, não necessariamente sabemos algo, e mesmo assim nos achamos os mais importantes, e todo o mundo ao meu redor deve ser como eu quero e tudo tem que ser para mim. Em ambos os casos há o “enamoramento” por nós mesmos, o que nos faz ser indiferente aos outros, gera desprezos e preconceitos, assim como o belo Narciso era ante às ninfas apaixonadas por ele.

O narcisismo impede-nos de ver os fatos como deveriam ser ou de ouvir as pessoas; impede-nos de reconhecer nossos erros e de aprender; impede-nos de estabelecer uma harmonia, uma boa convivência com tudo e todos. Impede-nos de estabelecer uma unidade, dentro dessa bela multiplicidade em que vivemos.

Ninguém será igual a outro, seja em questões físicas ou emocionais ou mentais (pensamentos). Por isso não deveríamos julgar tão rápido uma pessoa por causa de uma roupa que ela veste ou algo que ela fala. Não sabemos o que está por trás da história dela, e o que ela pensa e é de fato. E, também, o mundo não gira ao nosso redor; nós é que giramos com ele. Deveríamos aprender a entrar nessa harmonia, como uma peça de uma engrenagem de um relógio, para que este funcione perfeitamente.
Enquanto cada um ou cada grupo quiser a perfeição somente para si, os conflitos continuarão. Difícil vencer isto? Sim. Não é fácil largarmos de nossas vaidades e nossos orgulhos, pois estes defeitos têm sido colocados para cada um de nós como uma forma de vida. Há que ver além dos próprios reflexos; há um belo mundo para se ver.  

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