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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

A ficção científica e a chave para o real

http://cienciahoje.uol.com.br/blogues/bussola/2014/11/2014-uma-odisseia-no-espaco-tempo

No documentário Capitalismo, uma história de amor, Michael Moore dá início ao filme de forma magistral, com uma série de cenas de assaltos e um documentário antigo da Enciclopédia Britânica sobre a vida na Roma Antiga (!?). "Roma era a mais bela cidade do mundo antigo", começa o narrador. Em seguida, ele fala sobre como a fachada de grandeza escondia "sementes de decadência". A medida que o narrador avança, Moore intercala as cenas de Roma com imagens dos Estados Unidos. Se você não viu, brinque de imaginar. Se já viu, tente adaptá-las ao seu país, à sua realidade. Economia dependente de escravos, disparidade entre ricos e pobres, proliferação de favelas, pouca mobilidade social, entretenimento para divertir a população (corridas e lutas!), ditaduras, funções de um governo eleito pelo povo que esbarram em autoridades superiores, governantes irresponsáveis...

"Pergunto-me como nossa sociedade será vista no futuro. Nós seremos julgados por isso?", questiona nosso querido Michael assim que a introdução da Enciclopédia Britânica chega ao fim. Não vim aqui para falar de capitalismo. Vim para falar de um tema que ocupa um grande espaço da minha mente há muitos anos: a ficção científica, ou, se preferirem, o sci-fi! O que Moore faz, basicamente, é mostrar que os sinais de decadência da Roma Antiga estão bem claros na nossa sociedade. Os problemas amplamente estudados do passado se repetem em um mundo, muitos concordarão, em decadência. O documentário faz uma crítica ao Império Romano. Nossa cara pensar naqueles povos de antigamente, tão inferiores. Mas o que seremos daqui há cem anos? O que os documentários da Enciclopédia Lestásia dirão sobre esse povo rústico nas telas de uma televisão diferente da que conhecemos hoje, projetada por um equipamento pequeno sobre um aparador, por sua vez, não tão diferente dos que vemos hoje? Eles dirão: "Hail to the big brother!".

Quando Moore coloca nossa sociedade submissa aos julgamentos de um povo do futuro, ele quase faz uma concessão à ficção científica que emerge das nossas imaginações. No livro O Mundo de Sofia, Jostein Gaarder faz um desafio. Imagine uma coisa que nunca existiu! Imagine agora! Você não precisa. Ela nunca existiu. Tudo o que imaginamos, do mais absurdo e perturbador ao mais trivial, por mais inédito que seja, é feito com base em referências do que conhecemos. A terrível face de Cutulo nada mais é que a mistura de um elefante e de uma lula? Possivelmente. Assim é o futuro tal qual imaginamos. Projeções e misturas de nosso presente e passado. Desnecessário dizer que a ficção científica apresenta variados cenários? Nem tanto. Não precisa ser necessariamente sobre o futuro, por exemplo. Pode ser um "passado" mais avançado que o nosso. Isso é perfeitamente possível. A Europa retrocedeu no tempo após a queda do Império Romano. O Islã radical, hoje, também nos ameaça com um retorno forçado à tempos de barbárie. E levamos muito tempo para reaprender como levar as pedras das pirâmides sobre a fofa areia do deserto.

Podemos falar de um presente que se mescla, de alguma forma, com o futuro. Nos filmes de invasão alienígena, o ser humano precisa desenvolver ou compreender e dominar a tecnologia intergalática. Seja para vencer a ameaça, seja para fins pessoais, como aconteceu em Distrito 9, do genial Neil Blomkamp. Na trama, os humanos promovem um apartheid aos camarões. A história faz referência a uma condição humana e a um momento político cruel da nossa história, e ainda traz à tona reflexões sobre A Metamorfose de Kafka (não vou colocar link aqui, apenas para obrigá-lo a procurar o livro por conta própria, se ainda não tiver lido). Outro cenário, o futuro próximo ou distante também nos coloca em uma posição diferente, para enxergarmos outro ângulo da caixa na qual estamos presos. As obras de Philip k. Dick, que inspiraram clássicos do cinema como Blade Runner e O Vingador do Futuro são muito boas em levar os seres humanos para a degradante situação de colonos, por exemplo, e a lidar com problemas criados a partir de soluções pensadas à curto prazo (Bin Laden, é você?). E o grande mestre da ficção científica, o bom doutor Isaak Asimoov (achou que eu não fosse falar dele, não é?) vai além quando, na trilogia Fundação, mostra uma humanidade em vias de se deteriorar, e que sequer se lembra do passado em uma onírica Terra (nada a ver com a nossa história!).

Há na ficção científica a fina poesia do presente. A realidade é o óleo viscoso que banha as engrenagens da máquina do tempo. O portal interdimensional que transporta a imaginação ao nosso mundo, que se abre quando apertamos o play ou abrimos um velho livro sobre o amanhã que estava empoeirado nas nossas estantes. As mentes mais simplórias tomam a pílula da iniciação científica. O que eu quero dizer é que com um pouco de imaginação, podemos chacoalhar a caixa para descobrir o que há lá dentro. Podemos entrar na toca do coelho. Se o objeto se arrasta ou se rola. Se faz barulhos estridentes ou graves. A ficção científica nos traz a oportunidade de olhar diferente, de mudar as nossas perspectivas para compreender o presente, para evitar os erros do passado e para sonhar com dias melhores, de modo a alcançar esses sonhos. Se vivemos, hoje, tempos comparáveis ao do declínio e queda do Império Romano, como serão os tempos vindouros? O que perderemos nos giros para trás desse terrível construto chamado História? Logo agora, que estamos tão perto de uma nova fase de exploração do espaço!

As religiões brigam entre si pelo monopólio da origem dos homens. Mas a verdade está lá fora.  Enquanto guerreamos por fantasias e linhas imaginárias chamadas de fronteiras, "na adolescência da humanidade", como diria a radioastrônoma Eleanor Arroway, o espaço frio e fantástico nos aguarda. O mundo é fabuloso em si. A Terra é pequena demais para ambições tão mundanas quanto as da nossa sociedade, mas é a base perfeita para nos lançarmos ao espaço, ao futuro, ao amanhã. Basta que estejamos unidos. Impossível não lembrar Carl Sagan, quando o cientista e divulgador olha para o ser humano com esperança. “Nós que não conseguimos nem colocar nosso próprio lar planetário em ordem, divididos por rivalidades e ódios, havemos de nos aventurar no espaço afora? Quando estivermos prontos para morar no mais próximo dos sistemas solares, teremos mudado. Não seremos nós que alcançaremos Alpha Centauri. Será uma espécie muito parecida conosco, porém com mais de nossas forças e menos de nossas fraquezas. Mais confiante, visionária, capaz e prudente.” Pense em espécie.

Até o amanhã...

2 comentários:

  1. Só não existe aquilo que a gente não inventa. Bom texto mestre!!!

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  2. Só não existe aquilo que a gente não inventa. Bom texto mestre!!!

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