Há exatos 14 anos...
Parecia um dia normal em
Brasília naquela manhã de terça-feira, como qualquer outro, embora o céu-mais-azul-do-Brasil
estivesse extremamente cinzento, devido à baixa umidade, característica naquela
época do ano. Ironicamente, naquele mesmo dia, recebi um e-mail daquelas
mensagens-corrente falando que estávamos próximos do Dia Internacional da Paz,
que seria comemorado dali a 10 dias. Foi por isso que tomei uma decisão: “Quero
ficar em paz! Isolado. Sem barulhos de carros, sem celular tocando, sem pessoas
falando e andando... Um momento livre do estresse urbano”.
Fui para um clube. Estava
quase vazio, como eu queria. Consegui relaxar, lendo um bom livro, vendo a água
do Lago Paranoá, o ar do céu-mais-azul-do-Brasil, e a terra seca, mas segura...
Por algumas horas, consegui atingir meu objetivo. Faltava o quarto elemento, o
fogo... E lá estava... Ele, o Sol, que era o suficiente... Afinal, naquele dia
de calor e secura, a mandala-dos-quatro-elementos estava completa. Mas eu mal
sabia que ouviria falar muito mais em fogo naquele dia...
Depois de sair de meu
breve isolamento, ouvia pessoas pelas ruas comentando coisas do tipo “foi-horrível”.
Pessoas amontoadas diante das TVs-show. Movimentos exaltados pelas ruas. Foi
aí, que a curiosidade humana começou a me corroer por dentro para perguntar o
que havia acontecido. “Um avião bateu num prédio nos Estados Unidos”, disse-me
um rapaz. “É, está mais ou menos explicado o motivo da excitação popular... É
mais um daqueles acidentes à la TAM. Verei melhor quando chegar
em casa... mais uma tragédia da cômica vida do século 21”, pensei.
Chegando em casa à tarde, dei
de cara com a TV-show com a imagem em slowmotion
de uma avião batendo
contra o World Trade Center.
Palavras escabrosas saíram de minha boca pelos ares, em um instante de ímpeto
choque. Foi o começo do fim de um dia que seria normal. Afinal, como um bom
cidadão globalizado, eu não poderia perder aquele filme-realidade. “American under attack” era o nome. Pena ter perdido as cenas
iniciais, as quais me disseram que foram mais emocionantes que qualquer filme
de ação. Não que eu quisesse ver a tragédia alheia (sou contra qualquer tipo de
retaliação violenta), mas deve ter sido algo, no mínimo, estranho. Lembro-me de
ter sentido algo semelhante em 1991, durante a Guerra do Golfo. Mas agora
era diferente. Era a dita maior potência econômica-política-militar do planeta
sendo atacada por terroristas-geniosos.
E pensar que eu estava
condenando aquelas pessoas que assistiam firmemente às TVs-show, quando eu
voltava para casa. No fim, estava eu fazendo o mesmo durante horas. E também
pela internet, tentando abrir sites-em-colapso
buscando notícias-trágicas. Eu não as queria, mas a realidade e a faculdade de
jornalismo (mesmo em greve naquela época) me obrigavam.
O Dia Internacional da Paz
foi esquecido. Há anos a Paz foi esquecida. O medo, a desconfiança, a ganância
e a competição são as palavras da era dignas de encômio. Que era? Já era.
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