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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Impeachment: democracia ou golpe?

Havia prometido a mim mesmo que evitaria voltar a temas políticos e altamente polêmicos nos meus próximos textos. Estava colocando a cabeça para fazer um texto falando sobre o otimismo frente às adversidades, sobre o avanço recente da ciência, sobre consciência ecológica ou mesmo sobre o problema que me tem tirado as outras ideias da cabeça que é minha obra que nunca termina. Acontece que, justamente por conta dessa obra, que não dá paz aos meus pensamentos esticar um desses assuntos nesta semana me pareceu um desafio além da minha capacidade. Bem, já tinha um assunto que eu não queria, mas que já tinha desenvolvido um bocado com bom camarada Luiz Calcagno, colunista de todas as segundas. Discutimos por longos posts no Facebook sobre o tão falado impeachment da Presidente da República. Então é o que temos para essa semana.

Vamos lá! Tentarei fugir do óbvio entre tentar colocar um: a favor ou contra o processo de impedimento do governo ora eleito, e partirei para analisar argumentos de se pedir o impedimento ou renúncia faria parte do jogo político e, em caso de acometimento deste, se isto seria muito ou pouco danoso às nossas instituições e ao próprio desenvolvimento de nossa pátria.

Pedir impeachment faz parte do jogo político? A julgar pela prática do partido que detém o poder a 12 anos, sim. Basta vermos que dos quatro presidentes pós-ditadura militar que não eram parte do Partido dos Trabalhadores apenas um não recebeu protestos pedindo sua saída: Itamar Franco, que governou por apenas 2 anos, conseguiu estabilizar a moeda. Ainda sim foi duramente criticado e mesmo xingado pela principal figura do PT. Deixando a prática do PT de lado, e nos concentrando no que seria melhor para a nação, me vejo obrigado a concordar com senador Cristovam Buarque, que disseque sempre foi contra essa coisa de pedir a saída de um governo por qualquermiçanga, impeachment deveria ser coisa séria. O argumento de que isso enfraquece a democracia me soa válido, e defender que o PT pedia a saída de todos e agora não quer que peça a saída do governo dele é tão canalha quanto o próprio PT dizer que a corrupção, o caixa 2, os conchavos e o loteamento da Esplanada dos Ministérios, já existiam antes do governo deles, logo, não é problema deles. Pedir impeachment porque a condução da política econômica ou social não lhe agrada é realmente querer desrespeitar o que ganhou nas urnas.



Contraponto interessante a se fazer é relembrar que nas eleições do último ano, o PT não só jogou duríssimo contra os adversários, dizendo que eles iriam destruir a economia do país e trazer desemprego, como mentiu dizendo que não faria o que já sabia ser obrigado a fazer. Insto seria um ponto para algumas pessoas poderem dizer: “Espere aí! Eu votei em uma pessoa que não aumentaria os preços da energia, não subiria os juros e nem deixaria o desemprego crescer, me sinto enganado e quero rever isso”. Ou seja, sob a luz da tese do estelionato eleitoral faz sim algum sentido pedir a renúncia da Presidente. Mas lembrem-se, amiguinhos, isso só valeria para quem votou na Dilma, e para quem votou nela enganado, acreditando que ela faria um governo à esquerda ou seria uma maga da economia e conseguiria imprimir um monte de dinheiro para o governo sem fazer a inflação subir. Quem votou no outro lado e agora lança essa tese é mau-caráter também.

Conclusão: nesta ceara é como briga de crianças, não é possível saber quem começou e se tinha motivo ou não para chegar aonde chegou. É sempre o sujo falando do mal lavado. A única saída é colocar os dois de castigo e ver se aprendem.

O segundo ponto é o quanto poderia fazer bem ou mal uma eventual saída de Dilma, seja por impeachment ou por renúncia. Pois bem, este ponto me parece o mais relevante. No cenário atual temos uma Presidente da República que não consegue ter a mínima articulação com o Congresso, nem com o mercado, nem com a população e que os movimentos sociais apenas a toleram, posto que as opções a ela são percebidas como piores. Caso renunciasse e o vice assumisse poderíamos ter uma interlocução melhor ao menos com mercado e Congresso, quem sabe os movimentos sociais poderiam engolir esta mudança depois de notar alguma sinalização que os programas sociais não seriam aniquilados com a mudança de poder, já a população só vai dar a mão à palmatória para aquele que conseguir reaquecer a economia. Coloco minha mão no fogo que este reaquecimento será mais difícil com a Dilma do que com qualquer outro presidente possível. Para o próprio Partido dos Trabalhadores entregar o fardo do governo seria a melhor saída possível. Eles teriam cerca de 3 anos para que a costumeira memória do brasileiro falhasse e poderiam voltar em 2018 fortes com o ainda popular Lula, sob um discurso misto entre: fomos derrubados e queremos voltar e a humildade de erramos e aprendemos para fazer muito melhor. Se o PT chegar com o governo Dilma sangrando até 2018, mesmo Lula terá uma enorme dificuldade em emplacar qualquer discurso que o afaste do atual governo. Acredito que o Brasil merece ter líderes, mesmo não gostando de Lula, ele hoje é o maior líder que temos. Prefeririam mil vezes mais ter Michel Temer agora para ter Lula em 2018 que amargar mais 3 anos de Dilma e depois tentar a sorte na próxima eleição.

As instituições, no entanto, como citado acima, realmente teriam certo desgaste com essa saída precoce da presidente. As acusações de golpe seriam constantes e quem assumisse a faixa presidencial precisaria ser bastante hábil para movimentar a agenda para sair da “fossa” do revisionismo que sucederia à troca de comando.


Conclusão: a troca de comando menos de um ano depois da eleição é realmente um tiro no escuro. Poucos em posição de poder hoje parecem querer apertar esse gatilho. Mas em uma sala cheia de zumbis, às vezes é melhor apertar o gatilho a esperar e ver o que acontece.


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