Havia prometido a mim mesmo que
evitaria voltar a temas políticos e altamente polêmicos nos meus próximos
textos. Estava colocando a cabeça para fazer um texto falando sobre o otimismo
frente às adversidades, sobre o avanço recente da ciência, sobre consciência
ecológica ou mesmo sobre o problema que me tem tirado as outras ideias da
cabeça que é minha obra que nunca termina. Acontece que, justamente por conta
dessa obra, que não dá paz aos meus pensamentos esticar um desses assuntos
nesta semana me pareceu um desafio além da minha capacidade. Bem, já tinha um
assunto que eu não queria, mas que já tinha desenvolvido um bocado com bom
camarada Luiz Calcagno, colunista de todas as segundas. Discutimos por longos
posts no Facebook sobre o tão falado impeachment da Presidente da República.
Então é o que temos para essa semana.
Vamos lá! Tentarei fugir do óbvio
entre tentar colocar um: a favor ou contra o processo de impedimento do governo
ora eleito, e partirei para analisar argumentos de se pedir o impedimento ou
renúncia faria parte do jogo político e, em caso de acometimento deste, se isto
seria muito ou pouco danoso às nossas instituições e ao próprio desenvolvimento
de nossa pátria.
Pedir impeachment faz parte do
jogo político? A julgar pela prática do partido que detém o poder a 12 anos,
sim. Basta vermos que dos quatro presidentes pós-ditadura militar que não eram parte
do Partido dos Trabalhadores apenas um não recebeu protestos pedindo sua saída:
Itamar Franco, que governou por apenas 2 anos, conseguiu estabilizar a moeda.
Ainda sim foi duramente criticado e mesmo xingado pela principal figura do PT.
Deixando a prática do PT de lado, e nos concentrando no que seria melhor para a
nação, me vejo obrigado a concordar com senador Cristovam Buarque, que disseque sempre foi contra essa coisa de pedir a saída de um governo por qualquermiçanga, impeachment deveria ser coisa séria. O argumento de que isso
enfraquece a democracia me soa válido, e defender que o PT pedia a saída de
todos e agora não quer que peça a saída do governo dele é tão canalha quanto o próprio PT dizer que a corrupção, o caixa 2, os conchavos e o loteamento da Esplanada
dos Ministérios, já existiam antes do governo deles, logo, não é problema
deles. Pedir impeachment porque a condução da política econômica ou social
não lhe agrada é realmente querer desrespeitar o que ganhou nas urnas.
Contraponto interessante a se
fazer é relembrar que nas eleições do último ano, o PT não só jogou duríssimo
contra os adversários, dizendo que eles iriam destruir a economia do país e
trazer desemprego, como mentiu dizendo que não faria o que já sabia ser
obrigado a fazer. Insto seria um ponto para algumas pessoas poderem dizer: “Espere
aí! Eu votei em uma pessoa que não aumentaria os preços da energia, não subiria
os juros e nem deixaria o desemprego crescer, me sinto enganado e quero rever
isso”. Ou seja, sob a luz da tese do estelionato eleitoral faz sim algum
sentido pedir a renúncia da Presidente. Mas lembrem-se, amiguinhos, isso só
valeria para quem votou na Dilma, e para quem votou nela enganado, acreditando que ela faria
um governo à esquerda ou seria uma maga da economia e conseguiria imprimir um
monte de dinheiro para o governo sem fazer a inflação subir. Quem votou no
outro lado e agora lança essa tese é mau-caráter também.
Conclusão: nesta ceara é como
briga de crianças, não é possível saber quem começou e se tinha motivo ou não
para chegar aonde chegou. É sempre o sujo falando do mal lavado. A única saída
é colocar os dois de castigo e ver se aprendem.
O segundo ponto é o quanto
poderia fazer bem ou mal uma eventual saída de Dilma, seja por impeachment ou
por renúncia. Pois bem, este ponto me parece o mais relevante. No cenário atual
temos uma Presidente da República que não consegue ter a mínima articulação com
o Congresso, nem com o mercado, nem com a população e que os movimentos sociais
apenas a toleram, posto que as opções a ela são percebidas como piores. Caso
renunciasse e o vice assumisse poderíamos ter uma interlocução melhor ao menos
com mercado e Congresso, quem sabe os movimentos sociais poderiam engolir esta
mudança depois de notar alguma sinalização que os programas sociais não seriam
aniquilados com a mudança de poder, já a população só vai dar a mão à
palmatória para aquele que conseguir reaquecer a economia. Coloco minha mão no
fogo que este reaquecimento será mais difícil com a Dilma do que com qualquer
outro presidente possível. Para o próprio Partido dos Trabalhadores entregar o
fardo do governo seria a melhor saída possível. Eles teriam cerca de 3 anos
para que a costumeira memória do brasileiro falhasse e poderiam voltar em 2018
fortes com o ainda popular Lula, sob um discurso misto entre: fomos derrubados
e queremos voltar e a humildade de erramos e aprendemos para fazer muito
melhor. Se o PT chegar com o governo Dilma sangrando até 2018, mesmo Lula terá
uma enorme dificuldade em emplacar qualquer discurso que o afaste do atual
governo. Acredito que o Brasil merece ter líderes, mesmo não gostando de Lula,
ele hoje é o maior líder que temos. Prefeririam mil vezes mais ter Michel Temer
agora para ter Lula em 2018 que amargar mais 3 anos de Dilma e depois tentar a
sorte na próxima eleição.
As instituições, no entanto, como
citado acima, realmente teriam certo desgaste com essa saída precoce da presidente.
As acusações de golpe seriam constantes e quem assumisse a faixa presidencial
precisaria ser bastante hábil para movimentar a agenda para sair da “fossa” do
revisionismo que sucederia à troca de comando.
Conclusão: a troca de comando
menos de um ano depois da eleição é realmente um tiro no escuro. Poucos em
posição de poder hoje parecem querer apertar esse gatilho. Mas em uma sala
cheia de zumbis, às vezes é melhor apertar o gatilho a esperar e ver o que
acontece.
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