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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Sonhos moribundos

Um grande cortejo fúnebre caminha vagarosamente pelo espaço indefinido; a multidão, lúgubre, acompanha o cortejo com os olhos cheios de lágrimas. Ninguém sabe ao certo quem está dentro do caixão, ninguém está realmente triste, mas todos sentem um enorme vazio no fundo de suas almas.


É com esta pequena imagem metafórica que gostaria de começar o colóquio desta quarta. Acho que induz muito do sentimento coletivo que o Brasil, e mesmo o mundo, vem experimentando. O olhar coletivo tem algo de vacilante, quando nos atrevemos a tentar olhar para frente, parece cada vez mais se espessar uma neblina de pesar e incerteza.

Os jornais são unânimes em afirmar que grandes líderes são uma espécie em extinção, hoje é difícil apontar um líder da envergadura de um Gandhi, de um Winston Churchill, de um Martin Luther King Jr. ou de um Juscelino Kubitschek. Faço um pequeno parêntese para esclarecer que não coloco todas estas figuras em um mesmo pedestal; tenho minhas reservas, a uns mais que a outros. No entanto, é inegável que eles tinham um poder de liderança enorme! Não sei muito bem apontar quando esta extinção começou, e nem me proponho a tanto. Minha intenção aqui é apenas a catarse desde sentimento que tenho que perdemos nossa capacidade de Sonhar enquanto Humanidade.

Antes de procurar grandes líderes precisamos examinar as características que estes homens e mulheres costumam exibir. São pessoas que conseguem levar seus pares a os verem como pares, isto é, sem exibir uma suposta superioridade pavoneada por muitas regalias. Estes líderes costumam ter enorme empatia, sabem como as massas se sentem e conseguem fazer com que as massas se sintam como eles. Outro ponto bastante comum é o apreço à cultura. Apreço à cultura humanística, gosto em ler clássicos da literatura, em saber até onde a ciência conseguiu avançar e quais os desafios presentes, apreciar arte cênica e plástica, enfim sorver tudo que a evolução cultural da humanidade tem a oferecer. Sentem-se partícipes desta humanidade e pretendem contribuir para que ela continue a produzir belas pérolas como vem fazendo há milênios. O que estes homens nos apresentam é seu projeto, seu sonho, para os próximos passos da humanidade. E sonhando juntos grandes grupos sociais vão construindo o arcabouço que nos trouxe à era da Internet, da menor taxa de mortalidade infantil de todos os tempos, da longevidade, à era que está buscando conhecer e entender os recônditos do espaço.

O simples fato de falar destas coisas parece ascender uma chama de desejo de vivenciar e construir estas coisas. Mas o que vejo, ouço e percebo hoje é uma enorme massa de pessoas que se lixam para a construção do VLT (Very Large Telescope), pouco se importam com quem foi ou o que escreveu Machado de Assis, não querem saber do famoso discurso de Martin Luther King, “I have a dream”, e Picasso ou Leonardo da Vinci são meros nomes que pintores, não diferenciariam a obras de um ou de outro. Outra parcela, esta menor, retira um pouco da cabeça da completa ignorância da cultura, mas está tão comprometida com a própria causa, aquela que lhe aperta o calcanhar, que se esquece de que este é um problema da humanidade, e o sonho da construção de uma sociedade melhor é esquecido em detrimento de se retirar aquela pedra que o incomoda. Pessoas são feridas e esquecidas, todos os que não concordam 100% com suas visões de mundo são inimigos e perversos. Há ainda mais outra pequena parcela, que até se importa, que até vê o todo, mas que está ocupada demais com os infinitos estímulos que o mundo lhe oferece. Assim não sobra muita gente a sonhar com o próximo passo para a humanidade. Infelizmente posso afirmar com tristeza. Hoje conheço poucos homens que sonham.




"Nos últimos dias, consegui ver a minha vida como a partir de uma grande altitude, como um tipo de paisagem, e com uma sensação cada vez mais profunda de conexão entre todas as suas partes. Isso não quer dizer que terminei de viver.
Pelo contrário, eu me sinto intensamente vivo, e quero e espero, nesse tempo que me resta, aprofundar minhas amizades, dizer adeus àqueles que amo, escrever mais, viajar se eu tiver a força, e alcançar novos níveis de entendimento e discernimento."
quando este descobriu que o câncer que 
tinha estava em estado terminal) 

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