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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Um novo lar

http://www.iflscience.com/say-hello-earth-20-historic-kepler-discovery-suggests-we-are-not-aloneEssa semana, me deparei com uma possibilidade ao mesmo tempo incrível e infeliz. A possibilidade de um novo lar para o homem. Na noite da última quarta-feira, meu coração bateu acelerado quando li que, na tarde do dia seguinte, a Agência Espacial Norte Americana (Nasa) faria um importante comunicado. Esperei por formas de vida unicelulares em Titã ou em algum outro ponto do sistema solar, uma nova descoberta da New Horizons, além da cauda de Plutão, ou notícias das nossas queridas sondas Voyager, com os discos de Carl Sagan nos limiares do sistema solar ou além (whoa, baby! Estamos explorando o espaço!!!). A notícia foi veiculada logo cedo: uma Terra 2.0.

Batizada de Kepler 452b, descoberta pelo satélite Kepler, a Nova Terra, se for mesmo rochosa, apresentará muitas das características do nosso planeta. Aproximadamente 60% maior que o nosso pálido ponto azul, ela leva cerca de 385 dias para girar em torno do seu sol particular, uma estrela pouco mais de 1 bilhão de anos mais velha que a nossa e também um pouco maior. A distância entre o novo lar e o forno atômico que o aquece também é proporcional, isto é, trata-se de um planeta na "zona habitável", com uma temperatura que garante água em estado líquido (desde que haja água por lá). Pode ser um mundo parecido com o nosso, pode abrigar vida, pode, um dia, ser uma base para a humanidade, quando nos lançarmos às novas grandes navegações.

Kepler 452b fica a cerca de 1.400 anos luz da terra. Isso significa que, viajando à velocidade da luz, demoraríamos 1.400 anos para chegar lá. Também significa que, se mirássemos um super-satélite para o novo lar, um satélite tão poderoso que seríamos capazes de enxergar com clareza um lagarto de três cabeças caçando na superfície selvagem desse mundo, veríamos uma cena que aconteceu há 1,4 mil anos. Se, de lá, olhássemos para a Terra, veríamos o império neo-babilônico a todo pano, no local que, hoje, chamamos de Oriente Médio. A meta, agora, seria descobrir como dobrar o espaço e atravessar um buraco de minhoca. Seria desenvolver a tecnologia adequada para a quase não fictícia animação suspensa. Seria iniciar um processo de colonização independente de um novo mundo. Já temos as desculpas que precisávamos para, audaciosamente, ir onde homem nenhum jamais esteve, mas, infelizmente, morreremos no "seria".

Espero que essa descoberta valha a pena daqui a alguns séculos, pois no palco da Terra, a tragicomédia que vivemos torna esse novo mundo bem mais longe do que ele já é. Temos, em um lado da balança, um possível planeta habitável e, no outro, uma velha, velha civilização. O homem merece viver, ir além do que fomos até hoje, desbravar o Universo. Mas não o homem do nosso tempo. Depredamos a terra a um ponto sem retorno, brigamos, matamos e morremos em nome de fábulas chamadas religiões, figuras imaginárias batizadas de deuses e linhas invisíveis denominadas fronteiras. E fazemos isso há tanto tempo quanto conseguimos imaginar.

Falando em imaginar, imagine que fôssemos capazes de, nos próximos anos, desenvolver a tecnologia para chegar à Kepler 452b. O que faríamos com um mundo maravilhosamente novo, que coloca a vida como algo, talvez, banal no Universo, que nos tira do centro do mundo, que mostra que existe ainda mais esperança de encontrar novos lares? Vale a pena viajar toda essa distância para dar continuidade à nossa cultura vigente, ao estilo de vida predominante no nosso planeta? Eis a nossa "cultura vigente": extrair e destruir em nome de uma peça de teatro de muito mal gosto, que consideramos o ápice da evolução; considerar-se superiores às culturas que conseguem viver em harmonia com a Terra; desrespeitar outras vidas, matá-las, destruir habitats, em nome de um lucro que não valerá mais que 50 anos e que definitivamente, não tornará as coisas melhores... Podia quebrar o Blogger só com essa lista.

As vidas desse novo mundo, , levando em conta que existam, intactas a não ser pelo processo de nascimento e morte que promove a evolução, teriam o mesmo direito de existir que as da Terra. De crescer e se desenvolver que as da Terra. Direito esse que violamos copiosamente. E, com isso, estamos nos matando. Ano após ano. O que valeria mais, a extinção de m novo planeta em um tempo, aposto alto, muito menor do que o que levamos para dar início a um novo processo de extinção em massa por aqui, ou a extinção da humanidade e a prosperidade da vida no Universo? Se sumirmos, arrisco dizer, ninguém vai perceber. Lembro-me da pergunta imaginada por Ismael, personagem de Daniel Quinn, se os gorilas teriam chances de sobreviver em um mundo sem os homens. A humanidade não vale tanto quanto um planeta "novinho em folha".

Mas, ainda assim, podemos caminhar em direção à essa estrela, a esse planeta, em uma corrida de 1.400 anos luz. Podemos porque podemos. A caminhada começa aqui e agora. Temos que chegar lá. Nossa vida é muito preciosa. A caminhada, na verdade, começa hoje. Agora. Enquanto escrevo esse texto. Enquanto você lê. A caminhada começa com a demolição dos velhos fundamentos da cultura vigente. Começa com a humildade de olharmos para as nossas culturas mais primitivas e aprendermos com elas. Começa por descartarmos deuses, religiões e consolos. Não existe consolo. Na natureza, como disse um velho filósofo amigo meu, não existe perdão. A caminhada começa de um por um, não para que um homem alcance a nova terra, levando consigo o ambicioso individualismo, mas para que uma espécie o alcance, tornando o Universo um lugar menor e, ao mesmo tempo, maior. A caminhada começa nesse exato instante, para que humanos melhores possam aterrissar na nova e fina atmosfera. Pense em espécie.

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