Como bom discípulo de Uatu gosto
muito mais de observar e tentar antever para onde as coisas caminham do que
necessariamente fazer julgamentos de valor dos rumos que os acontecimentos
tomam. Pois bem, a recente discussão sobre maioridade penal caiu como uma luva
para este tipo de observação desapaixonada, ao menos para mim. Não tenho
posição, realmente acho que, reduzir ou não, não fará muita diferença no caos
que vivemos nas ruas de nosso país. Concordo com o que são contra apenas no
ponto em que dizem que o problema da violência não está na punição, mas
precipuamente na educação. Porém se concordamos que jovens de 16 anos podem
escolher seus representantes através do voto, não seria estranho tê-los como
maduros o suficiente para responder tal qual adulto ao menos para crimes graves...
A questão é complexa pacas no campo ideológico, mas quando se a joga para o
mundo prático ela tem pouca alteração, pois as coisas que estão sendo alteradas
já são cosias que pouco funcionam mesmo. Enfim, não pretendo me estender neste
debate, meu foco aqui é nas deliciosas entrelinhas...
Ontem, ao sair do trabalho, já
depois das 19h deixei para trás uma Esplanada dos Ministérios cheia de viaturas policiais,
manifestantes apaixonados de dois lados opostos, alternando entre um carro de
som enorme que tocou o hino nacional o dia inteiro e manifestantes ligados a
entidades estudantis com suas costumeiras palavras de ordem. Dentro da Câmara
dos Deputados os excelentíssimos debatem a Proposta de Emenda Constitucional
171/93. Ligo o rádio e vou embora. O rádio está sintonizado na Band News, a
jornalista Dora Kramer falava de política e eu decido ouvir, ao invés de mudar
para o meu pendrive para ouvir minhas músicas. Dora falava sobre a
possibilidade de José Serra se candidatar à presidência em 2018, mas por outra
sigla, ele faria uma mudança para o PMDB a fim de evitar o longo processo de
decisão disputando o cargo de candidato com Aécio e Alckmin. A entrevistadora de
Dora pergunta como seria possível isso, sendo Serra tão pragmático. Dora
responde que o PMDB também é muito pragmático, quer o poder, e ter Serra como
candidato pode leva-lo até lá. Guarde estas informações.
Hoje cedo acordo com a notícia de
que a PEC 171/93 foi derrotada. Todos estão felizes, todos comemoram. Lógico que este "todos" exclui os 90% de brasileiros que são a favor, porém abarca a elite
cultural de formadores de opinião. Acontece que, pouco mais tarde, ao abrir os portais de notícia me
deparo com a que informa que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), já tramaum retorno do tema, assim como fez com os financiamentos de campanha. É bom
lembrar que a derrota da PEC se deu por meros 5 votos, e isto não para alcançar
maioria absoluta, mas não deixar alcançar os ⅗ necessários para emendar a
Constituição. Ele deixaria de fora o crime de tráfico de drogas e votaria
novamente. Se o fizer, certamente ganhará. Todos ficarão tristes, todos
lamentarão. Menos os 90% de brasileiros que concordam com a redução, e o bom
brasileiro que conseguiu esta vitória quem foi?! Ele mesmo, Eduardo Cunha, que ganha
o protagonismo dessa batalha ganha.
Apesar disso, Eduardo Cunha ainda
não teria cacife eleitoral para ganhar uma eleição majoritária para Presidente,
porém poderia ser um vice muito forte para qual quadro do PMDB?! Aham, ele
mesmo José Serra! Junto a Eduardo Cunha facilmente podem vir a se tornar uma
chapa vencedora. Cunha, ardiloso, mas sem o carisma necessário, sedento de mais
e mais poder, pode enxergar em Serra um excelente trampolim. Serra já se deixou
ser ofuscado por Alckmin, porque não o seria por Eduardo Cunha? Sem
possibilidade de reeleição Cunha seria o candidato natural para 2022.
Quanto à maioridade penal, casamento homossexual ou quaisquer outros temas, não se iludam. Não vejo muitas semelhanças de Eduardo Cunha com o fundador do Nacional Socialismo Alemão. Não, o compararia a outra figura vilanesca do passado, com o bigode um pouco mais cheio. Refiro-me ao Homem de Aço, Josef Stalin.
Stalin também tinha muito mais de astuto articulador político que de líder carismático, assim como Cunha. Stalin saiu de uma posição de destaque algum para meteoricamente assumir a presidência do Partido Comunista da URSS. Stalin tinha muito mais afeição ao poder que às ideologias, nunca demonstrou grande apreço ao pensamento de Marx, Engels ou mesmo Lenin. Aliás, nunca demonstrou grande apreço ao pensamento em si. Soube, no entanto, utilizar a comoção com a morte de Lenin e o desejo do povo russo de ser protagonista no mundo, rivalizar com a Europa, para ganhar mais e mais poder. Eduardo Cunha tem mostrado as mesmas características: sabe manobrar muito bem o sentimento nacional, tem pouco apreço às ideologias e muito ao poder.
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