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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Uma volta no parque de diversões


http://moonheadpress.blogspot.com.br/2013/11/the-deal.htmlA vida é uma brincadeira. Uma grande sacanagem. Nossa sociedade só tem valor porque acreditamos nisso. Criamos uma peça de teatro e passamos a pensar que ela é real. Nessa peça, uma grande tragicomédia, temos medo da cortina e lutamos por um lugar na coxia, mesmo que não saibamos, na verdade, o que existe lá. Como em uma ciranda, os personagens, nós mesmos, saltamos de um grupo para outro, invertendo e revertendo fatos e destinos. Uns saem de cena para muitos outros entrarem. E os máscarados caem pelas bordas do palco e imaginam que são platéia enquanto julgam, sem saber que participam, dos atos absurdos que se deesenvolvem. Parece-me, de onde enxergo, que o o poeta e revolucionário Ernst Toller elaborou o enredo do espetáculo. Ele disse que a humanidade é uma grande roda que "as vezes anda pra frente, ninguém sabe pra onde, e as vezes para trás, ninguém sabe porque".

Dinheiro, democracia, votos, religião, fronteiras, nada disso tem valor em si. Inventamos isso e transformamos em verdade absoluta para sustentar nossa imbecilidade. Nossa requentada e mal temperada existência, repleta de potenciais e tão abaixo da linha da mediocridade, sustentada por pilares de vento, é a impressão na areia daquilo que nós criamos e acreditamos. Temos pernas longas, mas damos passos de formiga. Coroamos tiranos e nos curvamos aos pés deles. Elegemos ditadores para que nos torturem. A custa de mortes, muitas, conseguimos depô-los, e somos heróis. Tudo isso em uma brincadeira de criança que se tornou longa, perigosa e enfadonha. Erguemos e demolimos castelos sem fim, sem perceber que tanto cenário, quanto roteiro estão sob nossos plenos poderes. Somos muitos, mais fortes, mas não segundo as regras da peça, regras que nós mesmos inventamos.

Seria bom, as vezes, só pra variar, subir em algum lugar alto, ver a cidade, o céu, e pensar no que é importante de verdade. O que vale a pena desenvolver e evoluir nas susseções de gerações. Quais sacrifícios ergueriam o homem, o mundo e a natureza além dos patamares subdesenvolvidos da nossa história. Vale a pena se prender à divindades passageiras, mesmo que elas durem dois ou três milhares de anos? Vale a pena deixar de buscar respostas para manter o status quo? Vale a pena tapar os ouvidos para conservar os próprios paradigmas, nunca mudar de idéia? Vale a pena se agarrar ferrenho ao mastro em um naufrágio e gritar que "o navio não está afundando"? Somos caçadores e coletores brincando de saber. Perigosamente, ao menos parte desse saber é verdadeiro o suficiente para interromper o espetáculo em uma única cena, antes do fim do ato, e deixar a peça inconclusa. Sentados com nossos traseiros bexiguentos em grandes almofadas, cobrimos nossas frieiras e assaduras em nome da comodidade da mesma dor. Ninguém tem coragem de dizer que o rei está nu.

O comediante Bill Hicks entendeu o problema. Ele dizia que o mundo é como o passeio em um parque de diversões. "E quando você opta por ir nele você acha que é real, porque as nossas mentes são poderosas assim. O passeio vai para cima e para baixo, ao redor e ao redor, tem emoções e calafrios, e é muito colorido, e é muito barulhento, e é divertido… por um tempo". Até nos pergunarmos, de repente, se é tudo real, ou estamos apenas passeando. Então, alguém nos diz para não nos preocuparmos, pois é apenas um passeio. "E nós? Matamos essas pessoas." É exagero? Socrates, Hipatia, Giordano Bruno, Martin Luther King, Olga Benária, Che Guevara, Mahatma Gandhi, apenas para citar aqueles que foram assassinados de modo literal. Ainda existem tantos outros, banidos, presos, silenciados ou anônimos que levaram consigo as chaves das portas do teatro-caverna, que levaram consigo a nossa liberdade.

Bill Hicks nos lembra que, apesar de tudo, ainda é só um passeio. "E nós podemos mudá-lo a qualquer momento que quisermos. É apenas uma escolha. Sem esforço, sem trabalho, sem emprego, sem economia de dinheiro. Apenas uma escolha simples, agora, entre o medo e o amor." O cientista e divulgador científico Carl Sagan, no Pálido Ponto Azul, lembra que tudo o que já passamos em nossa longa e sangrenta história, aconteceu em um ponto minúsculo e insignificante no Universo. Ele fala sobre a Terra, vista de longe, nosso lar, "um grão de poeira". "Nele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. A totalidade de nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada crianças esperançosas, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada 'superstar', cada 'lider supremo', cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol."

Não é uma idéia pioneira, não é uma percepção original. Está bem debaixo de nossos narizes. O óvio, como eu sempre digo, é invisível aos olhos. Passeamos em um grande parque de diversões. Vivemos um teatro. Um grande espetáculo. Se existe um deus, deve ser Samuel Beckett. Pois, ao invés de simplesmente mudarmos as regras da brincadeira, esperamos Godot. E se resolvêssemos os nossos problemas e fôssemos explorar o espaço, nos debruçar minunciosamente sobre as questões fundamentais da vida? Utopia? Não me fale em utopia quando vivemos uma ilusão.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica.
Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um
canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto,
o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia
por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam.
Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles
generais e imperadores, para que, em sua gloria e triunfo,
eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de uma
fração de um ponto. Nossas atitudes, nossa imaginaria auto-importancia,
a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo,
é desafiada por esse pálido ponto de luz.
Carl Sagan


"Aqui está o que podemos fazer para mudar o mundo, agora,
para um passeio melhor: pegue todo o dinheiro que gastamos em  armas
e defesas a cada ano e, e vamos gastar em alimentação e vestuário e educar os
 pobres do mundo, o que vale muitas vezes mais, não deixar nem um humano ser excluído,
e podemos explorar o espaço, juntos, o interno e externo, para sempre e em paz."
Bill Hicks

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