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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

É loucura se reinventar sempre?

É loucura se reinventar sempre, ser quem não é, ver no outro aquilo que nunca foi?
É loucura, viver na fantasia, buscar compensações, viver numa eterna ilusão?
Sim, é loucura!
Mas também não é loucura o amor?
Por isso, sejam felizes, e sim com fantasias! Porque, sem alegria e sem fantasia, fica apenas a realidade; este pesadelo criado pela falta de amor.


Não. Não sou poeta e nem tenho pretensões para. Simplesmente meses atrás havia copiado esse pequeno trecho do filme “Loucas para Casar”, falado por um padre num casamento no final (ops... spoiler alert), e “por acaso” dei de cara com esse texto novamente quando estava pensando que tema escreveria hoje.

Sem querer dar spoilers, o filme de comédia brasileiro acabou me surpreendendo pelo seu final em que... a personagem Malu... não, não vou contar... mas me levou a uma reflexão agora de como nós vivemos uma certa esquizofrenia social compactuada; algo que criamos, tanto em nós mesmos quanto nos outros, para conviver harmonicamente em sociedade ou com pessoas específicas, criando diversas máscaras ou “eus” ou personalidades de nós mesmos para agradar demasiadamente os outros, e destes, como uma expectativa de serem como queremos que sejam.

Tudo bem que cada ambiente merece um determinado tipo de comportamento. Eu mesmo gosto de respeitar os espaços assim como gosto que respeitem o meu. Adaptações fazem parte. Adaptações e não castrações. Deixar de lado seus gostos, seus desejos e seus sentimentos, para viver uma outra personalidade, parece-me um certo grau de loucura. Já é difícil viver uma personalidade só, a nossa, a que nos cabe viver, criar outras então, só nos causa mais problemas.

As nossas, são personalidades criadas para satisfazer familiares, para conquistar o/a amado/a, para fazer amigos ou para encher os olhos do/a chefe. Também há as que criamos em nome de uma cultura, uma religião ou um status social. O fato é que criamos cada vez mais máscaras, ilusões dentro de ilusões de nossas ilusões, e nos perdemos nelas. E ainda queremos e fazemos com que os outros usem as máscaras que nos satisfaçam.

Isso me lembra que o filósofo grego Platão, em um trecho de sua obra “A República”, narra uma alegoria - o mito da caverna - no qual simbolicamente mostra que nós vivemos um mundo de ilusões, acreditando como reais as sombras projetadas em uma parede no fundo de uma caverna (onde, alegoricamente, estaríamos) por seres ou objetos que passariam pela frente de fogueiras em algum outro ponto dentro e acima, e que a realidade e a verdadeira luz (a do Sol) estaria fora da caverna. Particularmente, gosto dessa alegoria, pois demonstra, entre outras coisas, essas ilusões que criamos e acreditamos serem verdadeiras.

Parece loucura essa alegoria? Sim, é loucura! Lembro que me senti um pouco estranho ao me identificar como aqueles que estão no fundo da caverna. Uma loucura que vivemos e criamos a todo instante, e que nos mantém de alguma forma.

Que somos imperfeitos? Sim, somos. Podemos ser melhores a cada dia? Sim, podemos. Somos diferentes? Sempre. Devemos sair da caverna? Parece-me uma boa ideia... Mas nada disso nos deveria deixar de viver nossas imperfeições e diferenças, e nossas sombras, até que conheçamos de fato o mundo além do escuro fundo da caverna.

O mundo sombrio do fundo da caverna em que vivemos é frio, competitivo, por vezes assustador. Como conseguir viver bem nesse mundo de sombras que nos deixa loucos? Sendo loucos, eu diria; mas loucos com amor.

Ah, o amor... outra loucura... o amor que vai muito além do carnal, mas é o amor puro, livre das paixões, que busca união de todas as formas. 

E digo loucura por que novamente cito Platão, que em outra de suas obras – O Banquete –, fala que o amor é um sentimento amplo e universal, que é busca de algo que nos falta e que, para sermos realmente plenos, precisaríamos da união e buscar o bem de todos. Assim, o chamado “amor platônico” seria essa capacidade de amar a todos, sem distinções de etnia, preferências sexuais, condições econômicas, culturais... enfim, sem distinção de sombras e ilusões. Isto sim me parece loucura. Mas que bela loucura para se viver dentro do mundo da caverna, não?

Então, na falta de amor e na falta do sol fora da caverna, é melhor reinventar-se sempre. Sem medos. Não há pecados nem punições; nem céu, nem inferno. Há vida e vidas! Que cada um busque viver a sua, feliz, com as fantasias que lhe caibam dentro da caverna, pois é nela que vamos permanecer por um bom tempo ainda; a caverna com sua realidade fria, sombria e sem amor.

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