Impossível andar pelas calçadas
da maioria das cidades brasileiras e não notar algumas particularidades
desagradáveis que um passeio matinal em terras
brasilis podem nos regalar. Começando pelas irritantes fezes caninas
espalhadas por muitas ruas de prédios residenciais, passamos por obstáculos que
podem tornar um simples passeio em uma aventura hercúlea, seja para quem está com
um carrinho de bebê, para um cadeirante ou para uma moça com um saltinho pouco
mais alto. É possível notar ainda casas lindas com jardins maravilhosos atrás
de muros frios e sem grandes preocupações estéticas. Esse panorama nos diz
muito sobre como nos comportamos como sociedade.
Não cuidamos de nossas calçadas, não
nos importamos em como elas aparentam ou funcionam. E quando, eventualmente,
resolvemos ir até a padoca a pé e nos surpreendemos em como é feio e ruim andar
por elas logo maldizemos o governo, culpamos a corrupção endêmica dos gestores
púbicos e a conhecida leniência dos servidores públicos. O pequeno detalhe de
tratar este problema assim é que minha avó pensou desta forma, assim como minha
mãe e eu por boa parte do tempo, assim por uns 80 anos, aproximadamente,
tentamos resolver o a questão das calçadas com estes lugares-comuns e as coisas
até hoje não mudaram em absolutamente nada!
A primeira falha de jogarmos
todos os problemas da nossa sociedade para o colo do governo é que isso não
resolve nada. A segunda é que nem todos os problemas são realmente culpa do
governo. Ainda que juridicamente as calçadas sejam de responsabilidade do poderpúblico, a discussão que quero abordar é como podemos construir uma cidade
melhor e não se o paternalismo tem sustentação legal ou não. E a terceira é que
ao fazermos isso perdemos a oportunidade de construir uma cidade que nos
sintamos partícipes e responsáveis por ela.
Para que o Estado brasileiro
tenha dinheiro para entregar serviços parecidos com os países desenvolvidos a arrecadação teria que ser maior que nosso PIB, isso ainda sem analisar as
responsabilidade de particulares e de governo em cada país. Ou seja, é
impossível que com o que arrecada nossos entes federais cuidem como gostaríamos
de todas as nossas vias públicas, além de saúde, segurança e educação. Certa
vez meu irmão recebeu u
m amigo americano em casa, quando o questionou sobre o
que estava achando do Brasil ele disse que achou as casas muito bonitas por
dentro, mas não entendia porque eram tão mal cuidadas do lado de fora. O que me
levou a crer que, na perspicácia capitalista dos gringos, aquelas lindas
vizinhanças americanas não são fruto do governo que vai lá e planta grama e
constrói belas calçadas, mas dos proprietários que entendem que valorizar a
calçada da própria casa é valorizar o imóvel. A pergunta que fica é: porque não
cuidar da própria calçada?
A resposta que consigo enxergar para
a pergunta anteposta infelizmente não é muito bonita: porque não é minha e não
cuido do que não é meu. Já reparou como os interiores de condomínios fechados
costuma ser tão bonito e bem cuidado? É que os moradores se sentem donos
daquele pedaço, e só pode usufruir da beleza em que ele põe dinheiro os que
também contribuem para tal. É o mesmo tipo de pensamento pouco civilizado que
motiva o cidadão que desce de seu apartamento para que seu cão alivie as
necessidades fisiológicas e, sem se importar com as fezes deixadas na calçada
vira as costas e vai embora: não é problema meu, não vou pisar nisso, mais
tarde do SLU vem e limpa. Novamente a responsabilidade é do governo.
Felizmente nem tudo são espinhos.
Nos últimos anos, nas principais cidades brasileiras (posso falar mais de
Brasília, que é onde moro), tem havido um movimento de ocupação dos espaços públicos
com eventos como o Picnic e o pessoal dos “isoporzaços”. Encarar os espaços
públicos como nossos é o primeiro passo para construirmos uma cidade a qual nos
sintamos participes e responsáveis. O próximo passo agora é ajudar a construir
esses espaços, seja com doações, com trabalho ou mesmo cuidando da
acessibilidade e manutenção da calçada que passa em frente a sua casa.
Ótimo tema e ótimo texto, Pedrinho! Mais uma vez concordo com você! Mania horrível essa nossa de só nos preocuparmos em nomear culpados ao invés de tentar resolver o problema!
ResponderExcluir