Algum tempo atrás, eu conversava com
o amigo-confidente Luiz Calcagno sobre uma teoria minha, meio maluca, a de que tenho a forte impressão que os últimos anos parecem ser uma continuação
direta dos anos 80; como se boa parte dos anos 90 e 2000 tivessem sido apenas
um sonho de estabilidade e desenvolvimento pacífico, mas que acabou
abruptamente e nos vemos novamente às voltas com os antigos problemas. Depois
de eu explicar pra ele, pode até ser que não tenha concordado, mas ao menos
desistiu de me levar para o sanatório.
Tentarei então usar este espaço para construir essa minha teoria e aferir o grau de insanidade dela. O
primeiro gatilho que me fez começar a ter tal “teoria” foi o noticiário
internacional: a crise da Ucrânia meio que jogou a guerra fria de volta ao
radar. Não há mais um hiato de duas semanas sem que uma declaração de Obama não
tenha uma réplica dura de Putin e vice-versa. Lentamente toda uma geração, a
que nasceu a partir de 92, começa a tomar contato com um medo que todos nós
da geração de 80 para trás tinha bem vivida durante a infância e juventude: e
se alguém apertar um certo botão vermelho (para os mais velhos não é preciso
nem terminar a frase, pois certamente já estão imaginando um general disparando uma
bomba atômica) e iniciar uma guerra nuclear?
Esse medo esteve presente fortemente por duas ou três décadas na humanidade, dos anos 60 aos 80, mas aí, no começo dos anos 90, a URSS se retirou do mapa, e os russos começaram discursos e tratados de aproximação. Todo mundo passou os anos 90 em festa. Vieram os 2000 e veio o medo dos terroristas, com o 11/9. Mas tudo bem, eles não eram um Estado, não era um povo contra outro, mas uma multidão de lunáticos que todo o mundo civilizado condenava. Não era o mundo civilizado lutando entre si.
Então veio a crise econômica de 2008. O mundo ficou menos estável, os recursos mais disputados, a Rússia quis continuar crescendo como vinham fazendo os países dos BRICS. O palco acabou sendo as ruas de Kiev e os atores a União Europeia e a Rússia. A Rússia agiu rápido, pegou um naco estratégico do território ucraniano - a Criméia - e a chapa esquentou. Desde então, um tema que havia ficado no comecinho dos anos 90 voltou à pauta: EUA e Ocidente contra o apetite russo; ou seja, Guerra Fria.
Esse medo esteve presente fortemente por duas ou três décadas na humanidade, dos anos 60 aos 80, mas aí, no começo dos anos 90, a URSS se retirou do mapa, e os russos começaram discursos e tratados de aproximação. Todo mundo passou os anos 90 em festa. Vieram os 2000 e veio o medo dos terroristas, com o 11/9. Mas tudo bem, eles não eram um Estado, não era um povo contra outro, mas uma multidão de lunáticos que todo o mundo civilizado condenava. Não era o mundo civilizado lutando entre si.
Então veio a crise econômica de 2008. O mundo ficou menos estável, os recursos mais disputados, a Rússia quis continuar crescendo como vinham fazendo os países dos BRICS. O palco acabou sendo as ruas de Kiev e os atores a União Europeia e a Rússia. A Rússia agiu rápido, pegou um naco estratégico do território ucraniano - a Criméia - e a chapa esquentou. Desde então, um tema que havia ficado no comecinho dos anos 90 voltou à pauta: EUA e Ocidente contra o apetite russo; ou seja, Guerra Fria.
Nos anos 80 também havia um medo
muito recorrente além da guerra atômica: a AIDS! Não foram poucas as personalidades de grande destaque ceifadas por esta inclemente síndrome: Renato Russo, Isaac Asimov, Cazuza,
Freddie Mercury, Rock Hudson, Micahel Foucault, Magic Johnson (sendo que apenas o último sobrevive até hoje à doença, porém teve a carreira abreviada pela doença) e mais uma pá de gente. Todos estes casos deram uma refreada na revolução
sexual, iniciada nos anos 60, e que chegou aos anos 80 como uma charrete queperdeu o condutor. Hoje ainda não temos um grande astro como medo sanitário,
mas temos fortes concorrentes: MERS, SARS, H1N1, Ebola. A revolução sexual, com
todos os seus prós e contras, teve novo impulso com a evolução no tratamento
da AIDS, que hoje não é mais sentença de morte. No princípio dos anos 90 fazer
sexo começou a ter alguns empecilhos e foi sendo uma prática um pouco mais
ponderada, hoje estamos voltando à liberdade dos princípios dos anos 80.
Acompanhando o clima de volta da
guerra fria, os posicionamentos políticos parecem ter voltado também a uma polarização
esquerda x direita, que parecia ter sido dissipada tanto pelo fracasso do
socialismo quanto pela falência do capitalismo selvagem que contabiliza em
quase simétrica escala números em contas bancárias e mortes violentas. A social
democracia baseada em esquemas europeus tentou florescer. Mas, de novo, a crise
econômica de 2008 parece ter emperrado a coisa. O que vemos, não só no Brasil
nas últimas eleições (na verdade desde de junho 2013) mas no cenário
norte-americano é um resgate de posturas drásticas e contundentes de pontos de
vista extremados em: “todos devem ter tudo” e “cada um que trabalhe e consiga o
que se quer”.
No fim dos anos 80, as
preocupações com ecologia também pareciam mais fortes e urgentes. Foram ali
plantadas as sementes da Eco92 e do Protocolo de Kyoto. Depois a coisa esfriou,
muito se debateu e pouco se avançou. O clima, este que não volta atrás, está
ficando cada dia pior e agora as preocupações com a ecologia parecem novamente
mais palpáveis. Talvez a geração que cresceu com os conselhos do Capitão Planeta, agora conseguirá tomar a frente do processo e conseguir limitar as
emissões de carbono tão eficazmente quanto o Protocolo de Kyoto reduziu as
emissões de CFCs e freou a crescimento do buraco da camada de ozônio.
No Brasil também estamos vendo um
hóspede indesejado dos anos 80, querendo pular o muro de volta para o nosso
dia a dia: a inflação. Basta lembrar o quanto se gastava para encher o tanque do
carro há dois ou três anos atrás ou pensar na conta do supermercado do Natal de
2012 e na do de 2014 para constatar que está valendo a pena fazer “compra do
mês” para evitar os aumentos. A inflação ainda carrega uma avalanche de
problemas sociais que estão pipocando nos jornais: desemprego, aumento da
violência, diminuição da renda. Hoje me sinto muito mais privilegiado de ser
funcionário público que um ano atrás, nos momentos de crise a estabilidade é
tão valiosa quanto um bom travesseiro após um dia exaustivo de trabalho.
Fechando com o óbvio, que pode
ser facilmente explicado pelo fato da geração de 30, 40 anos estar agora
ascendendo no mercado e isso trazer seus referenciais para os produtos de
consumo. Mas o fato é que temos nos cinemas Exterminador do Futuro, Jurassic
Park, Independence Day, Transformers e mais uma pá de franquias diretamente dos
anos 80 que estão florescendo como se nos 20 anos que ficaram esquecidas estivessem
apenas guardando forças para erguerem-se mais fortes (o que não voltou, pode ter certeza, ainda vai voltar). Isso sem falar na febre
de pixel art, óculos, tênis, claças, enfim na volta de toda a moda dos anos 80.
Ao meu ver, o que desencadeou
essa volta ao cenário dos anos 80 foi justamente a crise econômica de 2008.
Apontaria ali como o marco, como o momento do despertar dessa geração para o
“ei, os recursos são limitados, se eu posso fazer as coisas como meus pais
fizeram, porque vou fazer da melhor forma possível?”. Brincadeiras à parte, no
fim de tudo sempre encarei os anos 80 como um período onde estávamos à beira do
precipício. Parece que por 20 anos evitamos olhar para ele, e agora a realidade
nos força a olhá-lo; não haverá mais tempo de olhar para o lado, ou construímos
uma ponta para transpô-lo ou saltamos por ele e curtimos um emocionante queda
livre com um final não muito feliz.
Talvez se este conselho tivesse sido seguido poderíamos ir adiante até o ano 2020....
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