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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A não obviedade do óbvio




 

Dizia Nelson Rodrigues que “somente os sábios enxergam o óbvio”. Mas, com todo respeito ao escritor, há coisas que são tão simples, que não precisa ser sábio para enxergá-las. Há muitas coisas do nosso cotidiano que deveriam ser óbvias, que nem precisariam de regras, leis ou avisos, mas que têm perdido seu sentido de obviedade.

A falta de bom senso tem tomado conta de nossas vidas. Tudo bem que não somos tão sábios para enxergar o óbvio sempre, como diz Nelson Rodrigues; ou que não existe verdade absoluta neste “mundo da caverna”, como diria Platão. Mas há atitudes dos seres humanos que estão hoje, muitas vezes, beirando o absurdo da falta de bom senso.

Na enciclopédia mais pesquisada no mundo atualmente – o Wikipédia – o conceito de bom senso está ligado à “capacidade intuitiva do ser humano de fazer a coisa certa”. E entendo essa “capacidade intuitiva” com um instinto básico do ser humano para as coisas mais simples e lógicas, pelo menos ao meu ver. Pensemos: em uma rua que é feita para veículos transitarem (carros, caminhões, motos etc.), é óbvio que não vamos andar no meio dela sem necessidade, correndo o perigo de ser atropelado. Reforço para entendimento: literalmente no meio. Bem, vamos para outro exemplo para melhor entendimento: é óbvio que não se passa por trás de um veículo quando ele está dando ré para sair de um estacionamento. Em ambos casos, independe de o motorista estar enxergando ou não; é uma questão básica de sobrevivência. Mas, por incrível que possa parecer, sim, há muitas pessoas que estão andando no meio das ruas e que passam atrás de um veículo quando estão dando a ré. E sim, essas pessoas estão vendo os veículos em movimento e muitas vezes em direção delas. E não, as pessoas não saem do caminho. Nessas horas me pergunto o porquê disso; pra quê? Seria uma forma de desafiar os motoristas? De mostrar uma certa superioridade por ser a parte frágil da situação por ser pedestre? Arrogância ou simplesmente desatenção? Enfim, independente do motivo que a pessoa tenha ao fazer isso, o que me vem a mente é a falta de instinto básico de sobrevivência e de bom senso.

Saindo das ruas, vamos para um lugar íntimo: o banheiro. Parece-me muito óbvio que se utilizamos o vaso sanitário, seja para o que e onde for, puxamos a descarga em seguida. E ainda, para os homens, quando aqueles respingos não caem dentro, mas ao redor do vaso, causando um verdadeiro terror para as mulheres, parece-me também óbvio pegar um pedaço de papel higiênico e limpar os respingos. Uma questão de saúde e higiene. De saúde, nem preciso comentar muito (espero), mas “gostar” de entrar em um banheiro com fedor de mijo acumulado não dá, né? Ou dá? Bom, cada um que faça sua reflexão... Há gosto para tudo...

E convenhamos, não precisaria ter uma placa avisando em um transporte público para que as pessoas deem lugar a idosos, grávidas ou pessoas portadoras de necessidades especiais. Nem precisaria de ter uma lugar reservado para isso. Parece-me muito natural, óbvio, ceder qualquer lugar a essas pessoas, ou qualquer outra que precise muito mais que nós por qualquer outro motivo. Falando em transporte público, sentar no chão com as pernas esticadas dentro de um vagão do trem, com este lotado, não me parece natural. Aliás, a pessoa está “pedindo” para ser pisoteada.

Não se estaciona na frente de uma entrada de garagem de uma casa, independente de ter carro dentro ou não; se uma rua indica que os carros devem ir para uma direção, não transitaremos com o nosso na direção contrária; devolver algo que encontrou que não lhe pertence; em um parque em que há caminhos indicados para caminhantes e “pedalantes” separadamente, o caminhante não andará no caminho dos “pedalantes”, e estes não andarão com seus veículos no dos primeiros; não jogar lixo no chão... Enfim... a lista das coisas óbvias é muito extensa, mas não pretendo entrar em detalhe de cada item. O fato é que estamos perdendo uma naturalidade de ser humano. Alguns dizem que estamos nos tornando animais por ter essas atitudes. Mas percebo que nem os animais estão com o instinto básico de sobrevivência tão parco assim... ou seja...

E antes que pensem que é óbvio que ele (eu) está falando que isso não se aplica a culturas distintas, que possuem normas do que é bom ou ruim para cada uma, digo que não é isso, mas algo que seja universal, uma forma de utilizar a inteligência para saber agir da maneira mais correta em uma situação, pelo bem de todos.  Inteligência não é cultural. É humano. Pode não parecer tão óbvio, mas, não custa nada tentar.

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