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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Era para ser do Dia da Paz...



Há exatos 14 anos...
Parecia um dia normal em Brasília naquela manhã de terça-feira, como qualquer outro, embora o céu-mais-azul-do-Brasil estivesse extremamente cinzento, devido à baixa umidade, característica naquela época do ano. Ironicamente, naquele mesmo dia, recebi um e-mail daquelas mensagens-corrente falando que estávamos próximos do Dia Internacional da Paz, que seria comemorado dali a 10 dias. Foi por isso que tomei uma decisão: “Quero ficar em paz! Isolado. Sem barulhos de carros, sem celular tocando, sem pessoas falando e andando... Um momento livre do estresse urbano”.
Fui para um clube. Estava quase vazio, como eu queria. Consegui relaxar, lendo um bom livro, vendo a água do Lago Paranoá, o ar do céu-mais-azul-do-Brasil, e a terra seca, mas segura... Por algumas horas, consegui atingir meu objetivo. Faltava o quarto elemento, o fogo... E lá estava... Ele, o Sol, que era o suficiente... Afinal, naquele dia de calor e secura, a mandala-dos-quatro-elementos estava completa. Mas eu mal sabia que ouviria falar muito mais em fogo naquele dia...
Depois de sair de meu breve isolamento, ouvia pessoas pelas ruas comentando coisas do tipo “foi-horrível”. Pessoas amontoadas diante das TVs-show. Movimentos exaltados pelas ruas. Foi aí, que a curiosidade humana começou a me corroer por dentro para perguntar o que havia acontecido. “Um avião bateu num prédio nos Estados Unidos”, disse-me um rapaz. “É, está mais ou menos explicado o motivo da excitação popular... É mais um daqueles acidentes à la TAM. Verei melhor quando chegar em casa... mais uma tragédia da cômica vida do século 21”, pensei.
Chegando em casa à tarde, dei de cara com a TV-show com a imagem em slowmotion de uma avião batendo contra o World Trade Center. Palavras escabrosas saíram de minha boca pelos ares, em um instante de ímpeto choque. Foi o começo do fim de um dia que seria normal. Afinal, como um bom cidadão globalizado, eu não poderia perder aquele filme-realidade. “American under attack” era o nome. Pena ter perdido as cenas iniciais, as quais me disseram que foram mais emocionantes que qualquer filme de ação. Não que eu quisesse ver a tragédia alheia (sou contra qualquer tipo de retaliação violenta), mas deve ter sido algo, no mínimo, estranho. Lembro-me de ter sentido algo semelhante em 1991, durante a Guerra do Golfo. Mas agora era diferente. Era a dita maior potência econômica-política-militar do planeta sendo atacada por terroristas-geniosos.


E pensar que eu estava condenando aquelas pessoas que assistiam firmemente às TVs-show, quando eu voltava para casa. No fim, estava eu fazendo o mesmo durante horas. E também pela internet, tentando abrir sites-em-colapso buscando notícias-trágicas. Eu não as queria, mas a realidade e a faculdade de jornalismo (mesmo em greve naquela época) me obrigavam.
O Dia Internacional da Paz foi esquecido. Há anos a Paz foi esquecida. O medo, a desconfiança, a ganância e a competição são as palavras da era dignas de encômio. Que era? Já era.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O narcisismo nosso de cada dia...

"Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto
É que Narciso acha feio o que não é espelho..."
(trecho da canção "Sampa", de Caetano Veloso)

"Ah, meu caro Narciso... por que tiveste que se apaixonar pela própria imagem?... Por que não foste capaz de olhar alem de ti próprio e de admirar todo um mundo ao teu redor?... Não és perfeito, Narciso... Ah, meu caro Narciso... por que vejo em ti o meu reflexo?"


Por favor, admirem este último parágrafo, de minha própria autoria... (aplausos)... Obrigado! Pois bem, hoje, tentando pensar sobre um tema para escrever, tive que sair (um pouco) de meu narcisimo e pedir sugestões. Eis que me sugerem falar sobre o próprio narcisismo. Soou-me interessante, ainda mais depois de meu último texto aqui no blog, que refleti sobre os rótulos sociais. Então, obrigado pela sugestão, Rodrigo! Cá estou eu.

O termo narcisismo vem do personagem da mitologia grega chamado... Narciso, cujo fato principal do mito é que ele, inicialmente indiferente ao amor, acaba se apaixonado pela própria imagem e, ao tentar alcançar o seu próprio reflexo, acaba por definhar-se ante busca inalcançável. Ao lembrar desse mito, fiquei refletindo sobre os nossos narcisismos, que ocorrem desde pequenas coisas no cotidiano, até a busca de uma suposta perfeição, que na verdade se trata de querer encontrar algo ou alguém exatamente como nós.

É natural de todo ser humano querer uma unidade em todas as coisas, ou seja, uma relação harmônica entre tudo e todos. Esta seria a perfeição tão buscada: no trabalho, tudo dá certo; em casa, ela está limpa e organizada; não temos conflitos com as pessoas, damo-nos bem com todas etc etc...

No entanto, esbarramo-nos ante uma questão: somos todos diferentes e as coisas não são ou os fatos ocorrem sempre da forma que queremos. Há que se levar em consideração que cada um possui necessidades de experiências diferentes, desejos distintos, e ainda um karma diferente, como diria a tradição hindu, tudo visando de alguma forma a unidade.

O maior problema ocorre quando entram dois defeitos humanos entram nessa história: a vaidade e o orgulho. Aparentemente semelhantes, considero estes defeitos a principal característica do narcisismo e os grandes os vilões para essa busca da unidade. Em poucas palavras, a vaidade é o sentimento de que somos melhores, pois sabemos bem algo ou fazer algo e sobrevalorizamos isto. No orgulho, não necessariamente sabemos algo, e mesmo assim nos achamos os mais importantes, e todo o mundo ao meu redor deve ser como eu quero e tudo tem que ser para mim. Em ambos os casos há o “enamoramento” por nós mesmos, o que nos faz ser indiferente aos outros, gera desprezos e preconceitos, assim como o belo Narciso era ante às ninfas apaixonadas por ele.

O narcisismo impede-nos de ver os fatos como deveriam ser ou de ouvir as pessoas; impede-nos de reconhecer nossos erros e de aprender; impede-nos de estabelecer uma harmonia, uma boa convivência com tudo e todos. Impede-nos de estabelecer uma unidade, dentro dessa bela multiplicidade em que vivemos.

Ninguém será igual a outro, seja em questões físicas ou emocionais ou mentais (pensamentos). Por isso não deveríamos julgar tão rápido uma pessoa por causa de uma roupa que ela veste ou algo que ela fala. Não sabemos o que está por trás da história dela, e o que ela pensa e é de fato. E, também, o mundo não gira ao nosso redor; nós é que giramos com ele. Deveríamos aprender a entrar nessa harmonia, como uma peça de uma engrenagem de um relógio, para que este funcione perfeitamente.
Enquanto cada um ou cada grupo quiser a perfeição somente para si, os conflitos continuarão. Difícil vencer isto? Sim. Não é fácil largarmos de nossas vaidades e nossos orgulhos, pois estes defeitos têm sido colocados para cada um de nós como uma forma de vida. Há que ver além dos próprios reflexos; há um belo mundo para se ver.  

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Impeachment: democracia ou golpe?

Havia prometido a mim mesmo que evitaria voltar a temas políticos e altamente polêmicos nos meus próximos textos. Estava colocando a cabeça para fazer um texto falando sobre o otimismo frente às adversidades, sobre o avanço recente da ciência, sobre consciência ecológica ou mesmo sobre o problema que me tem tirado as outras ideias da cabeça que é minha obra que nunca termina. Acontece que, justamente por conta dessa obra, que não dá paz aos meus pensamentos esticar um desses assuntos nesta semana me pareceu um desafio além da minha capacidade. Bem, já tinha um assunto que eu não queria, mas que já tinha desenvolvido um bocado com bom camarada Luiz Calcagno, colunista de todas as segundas. Discutimos por longos posts no Facebook sobre o tão falado impeachment da Presidente da República. Então é o que temos para essa semana.

Vamos lá! Tentarei fugir do óbvio entre tentar colocar um: a favor ou contra o processo de impedimento do governo ora eleito, e partirei para analisar argumentos de se pedir o impedimento ou renúncia faria parte do jogo político e, em caso de acometimento deste, se isto seria muito ou pouco danoso às nossas instituições e ao próprio desenvolvimento de nossa pátria.

Pedir impeachment faz parte do jogo político? A julgar pela prática do partido que detém o poder a 12 anos, sim. Basta vermos que dos quatro presidentes pós-ditadura militar que não eram parte do Partido dos Trabalhadores apenas um não recebeu protestos pedindo sua saída: Itamar Franco, que governou por apenas 2 anos, conseguiu estabilizar a moeda. Ainda sim foi duramente criticado e mesmo xingado pela principal figura do PT. Deixando a prática do PT de lado, e nos concentrando no que seria melhor para a nação, me vejo obrigado a concordar com senador Cristovam Buarque, que disseque sempre foi contra essa coisa de pedir a saída de um governo por qualquermiçanga, impeachment deveria ser coisa séria. O argumento de que isso enfraquece a democracia me soa válido, e defender que o PT pedia a saída de todos e agora não quer que peça a saída do governo dele é tão canalha quanto o próprio PT dizer que a corrupção, o caixa 2, os conchavos e o loteamento da Esplanada dos Ministérios, já existiam antes do governo deles, logo, não é problema deles. Pedir impeachment porque a condução da política econômica ou social não lhe agrada é realmente querer desrespeitar o que ganhou nas urnas.



Contraponto interessante a se fazer é relembrar que nas eleições do último ano, o PT não só jogou duríssimo contra os adversários, dizendo que eles iriam destruir a economia do país e trazer desemprego, como mentiu dizendo que não faria o que já sabia ser obrigado a fazer. Insto seria um ponto para algumas pessoas poderem dizer: “Espere aí! Eu votei em uma pessoa que não aumentaria os preços da energia, não subiria os juros e nem deixaria o desemprego crescer, me sinto enganado e quero rever isso”. Ou seja, sob a luz da tese do estelionato eleitoral faz sim algum sentido pedir a renúncia da Presidente. Mas lembrem-se, amiguinhos, isso só valeria para quem votou na Dilma, e para quem votou nela enganado, acreditando que ela faria um governo à esquerda ou seria uma maga da economia e conseguiria imprimir um monte de dinheiro para o governo sem fazer a inflação subir. Quem votou no outro lado e agora lança essa tese é mau-caráter também.

Conclusão: nesta ceara é como briga de crianças, não é possível saber quem começou e se tinha motivo ou não para chegar aonde chegou. É sempre o sujo falando do mal lavado. A única saída é colocar os dois de castigo e ver se aprendem.

O segundo ponto é o quanto poderia fazer bem ou mal uma eventual saída de Dilma, seja por impeachment ou por renúncia. Pois bem, este ponto me parece o mais relevante. No cenário atual temos uma Presidente da República que não consegue ter a mínima articulação com o Congresso, nem com o mercado, nem com a população e que os movimentos sociais apenas a toleram, posto que as opções a ela são percebidas como piores. Caso renunciasse e o vice assumisse poderíamos ter uma interlocução melhor ao menos com mercado e Congresso, quem sabe os movimentos sociais poderiam engolir esta mudança depois de notar alguma sinalização que os programas sociais não seriam aniquilados com a mudança de poder, já a população só vai dar a mão à palmatória para aquele que conseguir reaquecer a economia. Coloco minha mão no fogo que este reaquecimento será mais difícil com a Dilma do que com qualquer outro presidente possível. Para o próprio Partido dos Trabalhadores entregar o fardo do governo seria a melhor saída possível. Eles teriam cerca de 3 anos para que a costumeira memória do brasileiro falhasse e poderiam voltar em 2018 fortes com o ainda popular Lula, sob um discurso misto entre: fomos derrubados e queremos voltar e a humildade de erramos e aprendemos para fazer muito melhor. Se o PT chegar com o governo Dilma sangrando até 2018, mesmo Lula terá uma enorme dificuldade em emplacar qualquer discurso que o afaste do atual governo. Acredito que o Brasil merece ter líderes, mesmo não gostando de Lula, ele hoje é o maior líder que temos. Prefeririam mil vezes mais ter Michel Temer agora para ter Lula em 2018 que amargar mais 3 anos de Dilma e depois tentar a sorte na próxima eleição.

As instituições, no entanto, como citado acima, realmente teriam certo desgaste com essa saída precoce da presidente. As acusações de golpe seriam constantes e quem assumisse a faixa presidencial precisaria ser bastante hábil para movimentar a agenda para sair da “fossa” do revisionismo que sucederia à troca de comando.


Conclusão: a troca de comando menos de um ano depois da eleição é realmente um tiro no escuro. Poucos em posição de poder hoje parecem querer apertar esse gatilho. Mas em uma sala cheia de zumbis, às vezes é melhor apertar o gatilho a esperar e ver o que acontece.


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Órbitas desencontradas


Cafés fortes e espessos na mesa. Um filósofo e uma artista plástica conversavam amigavelmente na Piazza Della Signoria, em Firenze, na Itália. Eram turistas e foram apresentados por amigos em comum em um coincidente encontro entre grupos. Acabaram se vendo juntos, diante das estátuas greco-romanas da esplanada, enquanto falavam sobre a vida e sobre o que os motivava. Ele, de olhos verdes, jaqueta jeans, guia de visitas debaixo do braço, cabelos curtos, negros, com uma protuberante careca no cocuruto, brasileiro, estava mais empolgado. Ela, portuguesa, prima de um amigo do primo do cunhado do brasileiro, com cabelos e olhos negros, mais baixa, com casaco verde e blusa vermelha, de saia preta até o joelho e com frio nas pernas, ouvia mais, e se encantava com aquele terreno fértil que era a mente do homem que encontrara. Sentaram-se no café da praça para conversar, enquanto os grupos se dispersavam em direção à Ponte Vecchio.

- Pres’tenção... A velocidade média do som é de 340 metros por segundo, isto é, 1.224 quilômetros por hora.
- Sei...
- A da terra é de 108.720 quilômetros por hora, mais ou menos. O que quer dizer cerca de 88 vezes a velocidade do som.
- Ah! O Mach, não é isso? Caramba, seria Mach 88. Seria quebrar 88 vezes a barreira do som.
- É! E tem um caça, o Mikoyan-Gurevich, é o MiG-25, que vai a uma velocidade um pouco acima do Mach 3. Já foi um dos mais rápidos...
- Deixa eu ver... Isso dá, eu acho, não sei se os cálculos estão certos, mas dá 3.672 quilômetros por hora - calculados em um guardanapo.
- Você fala português quase igual aos brasileiros.
- Eu morei lá um tempo. Em Brasília. Dos cinco aos dez anos, mais ou menos.
- Eu sou de Belo Horizonte, mas morei em Brasília... E só nos topamos na Piazza Della Signoria... Engraçado. Mas então, o caça mais veloz não chega nem perto da velocidade do movimento de translação da terra em torno do sol. E uma bala de fuzil, sei lá de que tipo, uma vez me disseram, sai da arma a aproximadamente 900 metros por segundo, o que deve dar, em quilômetros por hora, o equivalente a 3.240.
- Nossa! Quase a velocidade de um MiG...
- Mas não vemos a bala, e vemos o Mig, por causa do tamanho dele. E antigamente as pessoas pensavam que o Sol se deslocava devagarzinho no céu quando, na verdade, giramos bem rápido em torno dele. Agora imagine você, um objeto com massa equivalente a 6 sextilhões de toneladas a 108.720 e poucos quilômetros por hora por aí, passeando. Acho que se ele tivesse o tamanho de uma cadeira, por exemplo, não sei se conseguiríamos vê-lo, como não vemos a bala do fuzil. Uma esfera que pese 3 quilos, na velocidade de translação da Terra, se chocaria contra um muro com uma força de 542.160 Newton, eu acho. Essa é a Terra navegando ao redor do Sol. E olha, 6 sextilhões é um número seis seguido de 21 zeros! E a velocidade da Terra em metros por segundo é de 30.200.194.
- Cruzes! Quanto número... Mas pode continuar, estou acompanhando... Uma pêra com massa equivalente a 6 sextilhões de toneladas a 30.200.194 metros por segundo, uma velocidade que não conseguimos imaginar.
- Isso é o mais incrível. A maioria das conclusões científicas mais modernas, no átomo ou no espaço, transcendem a capacidade de percepção sensorial e a imaginação do homem. Ainda não sei direito aonde vou chegar. Até porque esta conversa está viajando a uma velocidade muito alta.
- Concordo...
- Vamos mais longe então... A velocidade de rotação da Terra, medida na linha do Equador, é de 465 metros por segundo. E para entrarmos em órbita, precisamos alcançar uma velocidade de 28.000 quilômetros por hora, no meu ônibus espacial.
- No seu ônibus, sei...
- Muito mais rápido que um MiG ou que a bala de um fuzil, convenhamos. E em um trambolho muito maior.
- Certo.
- E a Lua realiza seu movimento de translação em torno da Terra a uma velocidade de 3.600 quilômetros por hora, e demora pouco mais de 27 dias para completar sua órbita ao redor do nosso planeta, sendo que o nosso diâmetro é de 12.756,2 quilômetros. Se nós fôssemos o Sol da Lua, o ano seria bem curto, mais rápido que um mês para os terráqueos.
- Para os terráqueos...
- Do que você está rindo?
- Não estou caçoando, estou achando graça. É interessante isso tudo.
- É que me empolguei. Agora veja isso: um ano em Marte equivale mais ou menos a um ano e onze meses na terra, e lá, teríamos quase a metade de nossa idade.
- A metade da idade! Gostei!
- Mulheres... Você teria quanto, 12?
- É, mas seria do jeitinho que sou agora.
- E mais uma coisa, a luz viaja a uma velocidade de 300.000 quilômetros por segundo. Não faço ideia de quanto seja isso em quilômetros por hora, mas dá para ir à Lua várias vezes em pouquíssimo tempo.
- Não brinca! Dá para viajar no tempo! Você olharia para trás e veria sua imagem olhando para trás. Seriamos energia pura. E a velocidade da luz em quilômetros por horas, vejamos... Pelos meus cálculos, seria 1.079.913.606,91 quilômetros por hora.
- Isso é o que viajamos em um vinte e quatro avos do dia. Somos energia pura. Somos partes condensadas de uma infinitamente espessa nuvem de átomos galácticos. E sequer temos noção disso. Existem mais espaços vazios entre os nossos átomos que espaço preenchido por eles em nossa massa e na de qualquer objeto. Sendo assim, por que diabos não atravessamos paredes?
- Tá legal, essa foi a cantada mais legal que já ouvi...
- Isso porque eu ainda não comecei a comparar esses números com as proporções dessas fantásticas estátuas.
- Que lugar bonito! Que cidade maravilhosa! E pensar que isto tudo é um pozinho do universo.
- E solitário.
- É, mas estamos juntos. Como dois corpos celestes de anos luz de diferença em suas origens, que se chocam energicamente.
- Mas na hora do choque, parece que você sofre uma influência gravitacional de algum planeta da consciência, e... desvia...
- Mas ainda estamos sobre a influência de nossas órbitas.

Ela sorri deixando um fio de esperança ao filósofo.


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Rótulo... qual o seu?

No meu primeiro texto aqui no blog, eu comentei sobre as máscaras que utilizamos na sociedade, por convenções nas quais entramos (de gaiato ou não). Ainda fazendo minhas observações, lendo e refletindo sobre a temática, me veio a ideia de falar sobre os rótulos sociais.
Afinal, você é rico? pobre? Ou seria classe média alta? ou  baixa?
Você é negro? branco? mulato? Ou talvez mameluco...
Vocês é gordo? Ou magro? Talvez sarado... ou, por que não, rechonchudo?
Gay ou hétero? Travesti ou transexual? Bissexual, quem sabe? Ou seria goy, bichinha, drag, crosdresser ou goiunage? Seria lésbica ou sapata ou caminhoeira?
Ah sim, você é católico... ou evangélico? Por que não budista, islâmico ou espírita? Ou ainda, ateu... ou tudo?
Sim, peguei logo pesado nos rótulos... E poderia continuar uma lista infinita aqui... Mas, qual a necessidade de se rotular?



Em um objeto, o rótulo serve para informar sobre o que ele é, quais suas características e/ou composição. Serve para distinguir uma coisa de outra. Assim, ao compramos um alimento, por exemplo, sabermos do que ele é feito, qual a quantidade de nutrientes e cia, e também sua validade. Mesmo em condições normais de temperatura e pressão, pode haver pequenas variações nessas características, quase imperceptíveis aos olhos em geral. Segue um padrão.
Mas, quando se rotula um ser humano, vejo inicialmente duas questões: a primeira é uma característica do ser humano, ímpar em relação a outros seres, que é possuir o livre arbítrio, o que faz ele ser uma “caixinha de surpresas”; a segunda é um aspecto que considero negativo, que essa generalização gera, que é a de se levar facilmente a um preconceito.
Discursando sobre esse aspecto negativo, é fato que para se compreender algo, precisamos dividir as coisas, ou seja, nossa mente trabalha com um sistema de comparações, e até aí é natural. Nossa mente faz uma síntese para compreender algo; quanto menos análises tivermos que fazer, mais fácil entenderemos. O problema é quando fazemos um julgamento pessoal, o que implica colocarmos interesses e gostos próprios para fazer essa comparação, que vai levar a uma comparação do que é melhor ou pior.
Identificar uma pessoa por uma determinada característica pessoal não vejo como problema... Precisamos de referência para tudo... Desde que essa identificação não seja maldosa. Maior problema considero quando se julga uma pessoa dentro da generalização dos rótulos, como se faz com objetos. Quando se rotula uma pessoa, a colocamos dentro de um grupo de comportamentos generalizados, esquecendo, mesmo que inconscientemente, que o ser humano possui o já citado livre arbítrio, e pode abrir sua caixinha com surpresas (ao menos para nossos olhos). Exemplo: ela é gorda, logo ela vai comer muito se for em minha casa; então, vou ter que comprar muita coisa para ela comer... Outro exemplo: ele é gay, logo vai dar em cima de todo homem que passar na frente dele, e ainda vai ter aqueles trejeitos afeminados estereotipados... E mais um exemplo: ela é rica, então, é arrogante, humilha outras pessoas ao exibir, ostentar (a palavra da moda!) sua riqueza; e esta outra, ela que é pobre, é humilde, não humilha outras pessoas... Será?... Enfim, são limitações que os rótulos acabam gerando; eles acabam mais atrapalhando que ajudando.
Entretanto, apesar de discorrer sobre aspectos negativos aos quais a rotulação nos leva (sim nós! pois rotulamos tudo e todos, com ou sem preconceitos) , também percebo que há o lado da pessoa rotulada se colocar como vítima. Não falo aqui de “ataques preconceituosos” ou bullyings, mas de uma susceptibilidade em se sentir ofendido por qualquer rotulação. Se uma pessoa se vira para outra e fala: “Sabe aquela rapaz que é gay...” ou “Aquela moça negra...”, não vejo ofensas aqui, mas uma forma de identificar uma pessoa. Reforço: desde que tenha realmente essa intenção, e que a continuação dos três pontinhos seja para continuar falando sobre a pessoa e que foi realmente uma identificação. Falo isto porque foi criado um outro rótulo de falar “politicamente correto”; mas, o que há de incorreto nesses termos?
Continuando... Se uma pessoa chama outra “Ei, magrão!” ou “Vem cá, gordo!”, se eu sou magro ou gordo mesmo, por que me ofenderia? Sim!... há pessoas que estão se ofendendo facilmente. Um dia desses vi uma desses posts na internet que falava mais ou mesmo assim: “As pessoas estão se ofendendo com tudo hoje, que se eu posto a foto de uma comida, alguém vai responder que estou ostentando porque tem muita gente que passa fome no mundo”. É tipo isso mesmo... E, por favor, não se ofenda agora...
Neste mundo de rótulos, cada um é o que é, com suas diferenças, com suas grande qualidades e vários defeitos. Que sejamos felizes! Sejamos nós mesmos! Vivam seus sonhos! Mas sem prejudicar os outros - e nem a si mesmo, pois fazer algo que faz mal a si mesmo é o rótulo do masoquismo. Sejamos melhores! Sempre! E se for para ter um rótulo, que seja o de SER HUMANO. 



*Fonte da imagem: https://urbanplushproject.wordpress.com/2012/02/21/diversity-the-art-of-thinking-independently-together-malcolm-forbes/

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Brasil e a política: um caso de amor

Pode parecer estranho mas, muito mais que uma mera relação de interesses, o Brasil parece viver uma ardente relação amorosa com a política. Digo isso não apenas para contestar o já tradicional discurso de alienação política do brasileiro, mas por ser a única resposta plausível para explicar o comportamento da brava gente brasileira. Que outra coisa, que não os sentimentos mais aflorados e irracionais, tal como uma arrebatadora paixão, poderia explicar como a maior parte da nação se engalfinha em apontar os erros do adversário enquanto tanto uns quanto os outros estão todos de mãos dadas na enorme crise econômica e política que está apenas começando?

Buscar soluções costuma ser coisa que casais apaixonados deixam para fazer apenas quando a relação está muito muito perto do fim. Antes disso, o casal apaixonado sempre vai despejar os ciúmes e as mágoas no outro; sempre vai ter de lembrar ao outro daquela data especial que ele esqueceu ou jogar na cara os sacrifícios que lhe são pedidos para aturar a velha tia chata nas festas de família. O problema deste comportamento entre casais apaixonados é que, muitas vezes, a paixão acaba antes que as soluções sequer comecem a ser procuradas. Assim, o sentimento, que fazia a coisa ser tão intensa, bloqueou tanto a razão que o próprio sentimento se consumiu, feito uma vela de palha que pode queimar intensamente por alguns segundos. Relações menos apaixonadas de início tendem mais a se fortalecer e crescer, como uma vela de sebo, que pode queimar com um chama forte e constante por vários dias seguidos. O segredo destas relações é que, junto a toda paixão, se dilui um pouco de razão, e ao menor sinal de desgastes o casal senta, conversa e acha soluções aprazíveis para os dois.

Agora vamos falar de ajuste fiscal: de um lado, o governo é obrigado a fazer ajustes para estancar as contas públicas; do outro a oposição, que na eleição havia sido até mais sincera e dito que medidas de ajuste teriam de ser adotadas, critica o governo por supostamente retirar direitos dos trabalhadores. Neste ponto, falta sinceridade à oposição; realmente, a maior parte do ajuste proposto foi de correções de distorções, ou alguém aí acha realmente justo um(a) viúvo(a) de vinte e poucos anos ficar recebendo pensão do Estado para sempre? Os casos do seguro desemprego também estavam bastante alarmantes, com os gastos do seguro subindo mesmo com o desemprego baixo e estável. Posso dizer que conheço mais de uma pessoa que já fez acordo com a firma para ser demitida, continuar trabalhando e recebendo o seguro desemprego. O que a oposição não atacou: existem outras várias distorções para cima que não foram tocadas: as aposentadorias e pensões de alto escalão são absurdas, tanto no tempo para fazer jus a elas quanto nos valores. A “punição” a juízes com aposentadoria. A farra dos auxílios moradia. Além de todos os infinitos benefícios de altos escalões. O governo cometeu um erro crasso ao não cortar (mesmo que os valores finais de economia não fossem tão altos) na carne, nos altos escalões, em primeiro lugar. Desde novos aprendemos com o exemplo, se nossos pais ou professores fazem algo ou deixam de fazer tendemos a imitá-los. O “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” nunca colou. Houvesse seguido este caminho teria como se defender e dizer que estava fazendo mudanças estruturais e não apenas apertando para quem está abaixo. Que governo e oposição não queiram trazer com firmeza essas discussões à tona entende-se. O alarmante é ver a sociedade comprando o discurso de “impeachment” de um lado e “golpe” do outro.

Outro ponto debatido em campanha, e que depois morreu e não tomou rumo de um amplo debate nacional: o número de ministérios. Quando se atacava os quase 40 Ministérios em campanha o governo sempre retrucava: “quais os Ministérios seriam cortados em seu governo?” e isto bastava para afugentar as críticas. É como se o candidato citasse o Ministério do Esporte isto representasse que ele não daria fomento ao esporte no país. A eficiência das estruturas e políticas dificilmente eram descoladas. Sempre pensei que a esgrimista brasileira Cléia Guilhon (já que o governo não ajuda, entre no link e dê uma força a essa atleta fantástica!) preferiria uma Secretária do Esporte ligada ao Ministério da Cultura ou Educação, que fizesse uma política de dar espaço a atletas de alto nível em universidades e os levasse para competir em alto nível em campeonatos internacionais, do que ter um Ministério do Esporte que paga uma bolsa atleta com valores que mal dão para arcar com as despesas de treinamento dela e ponto final. Outra vez as pessoas tomam posições de “mais Estado” ou “Estado menor” e todo mundo esquece que este tamanho não tem absolutamente nada a ver com a eficiência e eficácia da máquina estatal.

Por fim, gostaria de rememorar asaudosa CPMF: foi implementada no governo tucano a despeito da oposição petista, que bradava que o brasileiro não aguentava mais impostos. Caiu no governo Lula, com os tucanos atacando e não deixando que a contribuição se tornasse imposto regulamentar, pois o brasileira não aguentava mais impostos, os petistas agora como governo argumentavam que a saúde precisava deste imposto, e que ele era , mais justo, pois quem movimentava mais dinheiro pagava mais. Enfim, quem era governo queria o imposto, quem era oposição ia contra. Assim ninguém parecia preocupado em ter uma postura ideológica sobre se é uma forma eficiente de se cobrar imposto ou não, mas se eu posso arrecadar mais no meu governo ou impedir que o outro arrecade. Da mesma forma, tivemos apaixonados endossando os posicionamentos de oposição e governo em ambas as ocasiões (ainda na tentativa de voltar com esse imposto no governo Dilma 1).


Com a crise que nos bate à porta só posso ver uma saída para o Brasil não convulsionar e retroceder em muitos pontos avançados nos nossos quase 30 anos de democracia: deixar a paixão pelo lado político de lado, deixar os mais altos sonhos esperarem um pouco, e todos juntos procurar soluções aplicáveis e eficientes, independente da coloração política. Antes que tenhamos que procurar outro par para nos apaixonar.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Um novo lar

http://www.iflscience.com/say-hello-earth-20-historic-kepler-discovery-suggests-we-are-not-aloneEssa semana, me deparei com uma possibilidade ao mesmo tempo incrível e infeliz. A possibilidade de um novo lar para o homem. Na noite da última quarta-feira, meu coração bateu acelerado quando li que, na tarde do dia seguinte, a Agência Espacial Norte Americana (Nasa) faria um importante comunicado. Esperei por formas de vida unicelulares em Titã ou em algum outro ponto do sistema solar, uma nova descoberta da New Horizons, além da cauda de Plutão, ou notícias das nossas queridas sondas Voyager, com os discos de Carl Sagan nos limiares do sistema solar ou além (whoa, baby! Estamos explorando o espaço!!!). A notícia foi veiculada logo cedo: uma Terra 2.0.

Batizada de Kepler 452b, descoberta pelo satélite Kepler, a Nova Terra, se for mesmo rochosa, apresentará muitas das características do nosso planeta. Aproximadamente 60% maior que o nosso pálido ponto azul, ela leva cerca de 385 dias para girar em torno do seu sol particular, uma estrela pouco mais de 1 bilhão de anos mais velha que a nossa e também um pouco maior. A distância entre o novo lar e o forno atômico que o aquece também é proporcional, isto é, trata-se de um planeta na "zona habitável", com uma temperatura que garante água em estado líquido (desde que haja água por lá). Pode ser um mundo parecido com o nosso, pode abrigar vida, pode, um dia, ser uma base para a humanidade, quando nos lançarmos às novas grandes navegações.

Kepler 452b fica a cerca de 1.400 anos luz da terra. Isso significa que, viajando à velocidade da luz, demoraríamos 1.400 anos para chegar lá. Também significa que, se mirássemos um super-satélite para o novo lar, um satélite tão poderoso que seríamos capazes de enxergar com clareza um lagarto de três cabeças caçando na superfície selvagem desse mundo, veríamos uma cena que aconteceu há 1,4 mil anos. Se, de lá, olhássemos para a Terra, veríamos o império neo-babilônico a todo pano, no local que, hoje, chamamos de Oriente Médio. A meta, agora, seria descobrir como dobrar o espaço e atravessar um buraco de minhoca. Seria desenvolver a tecnologia adequada para a quase não fictícia animação suspensa. Seria iniciar um processo de colonização independente de um novo mundo. Já temos as desculpas que precisávamos para, audaciosamente, ir onde homem nenhum jamais esteve, mas, infelizmente, morreremos no "seria".

Espero que essa descoberta valha a pena daqui a alguns séculos, pois no palco da Terra, a tragicomédia que vivemos torna esse novo mundo bem mais longe do que ele já é. Temos, em um lado da balança, um possível planeta habitável e, no outro, uma velha, velha civilização. O homem merece viver, ir além do que fomos até hoje, desbravar o Universo. Mas não o homem do nosso tempo. Depredamos a terra a um ponto sem retorno, brigamos, matamos e morremos em nome de fábulas chamadas religiões, figuras imaginárias batizadas de deuses e linhas invisíveis denominadas fronteiras. E fazemos isso há tanto tempo quanto conseguimos imaginar.

Falando em imaginar, imagine que fôssemos capazes de, nos próximos anos, desenvolver a tecnologia para chegar à Kepler 452b. O que faríamos com um mundo maravilhosamente novo, que coloca a vida como algo, talvez, banal no Universo, que nos tira do centro do mundo, que mostra que existe ainda mais esperança de encontrar novos lares? Vale a pena viajar toda essa distância para dar continuidade à nossa cultura vigente, ao estilo de vida predominante no nosso planeta? Eis a nossa "cultura vigente": extrair e destruir em nome de uma peça de teatro de muito mal gosto, que consideramos o ápice da evolução; considerar-se superiores às culturas que conseguem viver em harmonia com a Terra; desrespeitar outras vidas, matá-las, destruir habitats, em nome de um lucro que não valerá mais que 50 anos e que definitivamente, não tornará as coisas melhores... Podia quebrar o Blogger só com essa lista.

As vidas desse novo mundo, , levando em conta que existam, intactas a não ser pelo processo de nascimento e morte que promove a evolução, teriam o mesmo direito de existir que as da Terra. De crescer e se desenvolver que as da Terra. Direito esse que violamos copiosamente. E, com isso, estamos nos matando. Ano após ano. O que valeria mais, a extinção de m novo planeta em um tempo, aposto alto, muito menor do que o que levamos para dar início a um novo processo de extinção em massa por aqui, ou a extinção da humanidade e a prosperidade da vida no Universo? Se sumirmos, arrisco dizer, ninguém vai perceber. Lembro-me da pergunta imaginada por Ismael, personagem de Daniel Quinn, se os gorilas teriam chances de sobreviver em um mundo sem os homens. A humanidade não vale tanto quanto um planeta "novinho em folha".

Mas, ainda assim, podemos caminhar em direção à essa estrela, a esse planeta, em uma corrida de 1.400 anos luz. Podemos porque podemos. A caminhada começa aqui e agora. Temos que chegar lá. Nossa vida é muito preciosa. A caminhada, na verdade, começa hoje. Agora. Enquanto escrevo esse texto. Enquanto você lê. A caminhada começa com a demolição dos velhos fundamentos da cultura vigente. Começa com a humildade de olharmos para as nossas culturas mais primitivas e aprendermos com elas. Começa por descartarmos deuses, religiões e consolos. Não existe consolo. Na natureza, como disse um velho filósofo amigo meu, não existe perdão. A caminhada começa de um por um, não para que um homem alcance a nova terra, levando consigo o ambicioso individualismo, mas para que uma espécie o alcance, tornando o Universo um lugar menor e, ao mesmo tempo, maior. A caminhada começa nesse exato instante, para que humanos melhores possam aterrissar na nova e fina atmosfera. Pense em espécie.