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Todas as segundas, quartas e sextas um artigo quentinho com opiniões aleatórias, questionamentos socráticos e visões confusas de mundo!

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Você realmente se preocupa com o que seu filho consome?

Resolvi escrever este texto ao sair de uma sessão de cinema. Dia desses deixei meu filho com minha sogra e fui com minha esposa assistir ao novo filme do sul-africano Neill Blomkamp, Chappie. Assim como o já cult Distrito 9 pode ser visto como uma versão adulta (e digo isso não apenas pelo filme mostrar violência e palavrões em um clima mais realístico, mas pelos próprios temas abordados e as metáforas existentes) de E.T. – O Extraterreste de Spilberg, Chappie é uma versão adulta de Robocop 2. Estão ali os robôs substituindo policiais, a questão da violência e da consciência, mas tudo muito no estilo Blomkamp de ser.

Pois bem, pipoca, refrigerante e ingresso na mão, entro na sala. Antes de entrarmos minha esposa já havia me perguntado se não teriam muitas crianças na sala, posto que o Shopping estava apinhados delas e era uma sessão às 15h30. Prontamente respondi que não, afinal se tratava de um filme com censura 16 anos, com temática adulta que ficava bastante patente no trailer do filme e na filmografia do diretor. Qual não foi minha surpresa ao ver inúmeros pais com seus rebentos em idades de uns 7 até 12 anos na sala (isto sem contar um bebê, que ao final da sessão começou a chorar, sério, acho que devia ser proibido levar bebês à salas de cinema fora das sessões especiais para pais com bebês). Não pude deixar de pensar em todas as crianças na sala de cinema enquanto me deleitava com o filme, era impossível não ter um certo desconforto com as chuvas de palavrões que Ninja e Yolandi Visser soltavam a cada cena ou com a violência gráfica que também vinha em doses generosas. Ao fim do filme ainda me questionava o quanto da temática um garoto de 8 anos conseguiu extrair. O filme, uma com muito de reflexão sobre a nossa sociedade pós-industrial com suas contradições, sobre a violência policial, o despertar de uma consciência moral, o consumismo a marginalização e mais uma pá de coisa que é possível extrair foi tratado por pais, possivelmente, como apenas uma atração de ação para entreter seus filhos em uma sábado a tarde.

Daí, ao conversar sobre isso com minha esposa (que, coitada, é obrigada a ficar ouvindo diariamente minhas elucubrações sobre o universo, a vida e tudo mais), me lembrei dos ferrenhos pais, que amaldiçoaram a nefasta rede Globo por colocar no ar uma novela que mostra um casal de senhoras lésbicas se beijando às 21h30 em suas caixinhas mágicas de diversão. Pensei se alguns daqueles pais, que levaram seus filhos para ver o Chappie, engrossavam esse coro de cidadãos preocupados com os “bons-costumes”. E me perguntei se eles estavam realmente preocupados com o que os filhos deles consomem.

Vejam bem, se o pai acha que a homossexualidade é coisa do demônio e que o filho ver uma coisa dessas vai fazer com que ele acabe se enveredando pelo caminho do pecado, ok, o cidadão tem o direito de achar o que quer da vida. Agora, se o cidadão pensa assim deveria, antes de deixar o filho ver uma cena tão pecaminosa na TV às 21h30, desligar o aparelho e propor aos filhos lerem o Pequeno Príncipe juntos, ou mesmo a Bíblia (se bem que tem cada coisa neste livro também que seria melhor poupar os filhos mais novos), ainda existe a possibilidade de buscar a programação de outros canais, comprar um DVD ou talvez ensinar aos filhos que criança dorme cedo e 21h30 é hora de escovar os dentinhos, vestir o pijaminha e ouvir uma boa historinha ou contar carneirinhos até o sono chegar. 

Um comentário:

  1. Adorei o tom de ironia no final. Ilustra muito bem a atual hipocrisia da sociedade. Parabéns pelo texto, Pedro! :)

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